por Gabriel Oliveira
Minha ironia é seu pecado
e minha glória. Não necessito de muitos esforços para enganá-lo, ou melhor, para
fazê-lo adentrar em minha casa. Basta chamá-lo, não é mesmo? Meu sarcasmo é seu
combustível para todos os dias em que estou com você. Sou um grande fingidor,
mas você não percebe isso. E, revelando cruelmente uma das minhas verdadeiras
faces, tenho certeza de que continuará me amando assim como deveras ama aquele
que lhe dá a mão. Quando não apareço, você tem saudades, não é mesmo? Faço você
rememorar pessoas, épocas, situações e sentimentos. Sou a metonímia da sua
vida e de seu ambiente social. Você descarrega todas as emoções e eu não as
quero,de fato. Finjo considerá-la para não desampará-lo totalmente. Sou um
grande fingidor, creio. Minha ironia é seu pecado e minha glória, meu caro e
minha cara.
Ilustração: Laerte |
Não possuo nenhum livro
escrito. Mas todos escrevem sobre mim. Não preciso materializar em linhas o que
faço ou deixo de fazer. Materializo na sua vida tudo aquilo que sonha, mas sou
sarcástico. Gosto de brincar com você, com seus sonhos, com a sua realidade,
com seu presente, seu futuro. Meu grande amor, o Passado, é aquele que é tão
fingidor quanto quem vos escreve. Ele cria esperanças. Eu as dou. Ou não. Nossa
ironia é seu pecado e minha glória. O Passado já goza o esplendor. Dificilmente
vocês se lembram dele de maneira ruim. Talvez tenha uma raça que gosta de
tentar persuadir vocês. Esses sim são enganadores que, muitas vezes, “estragam”
o que sou. Desprezo os jornalistas. Mas
sei que me amam, afinal, atraio cada vez mais deles para minha casa. Mesmo
sabendo que muitos sequer passarão pelas portas da frente, que são
extremamente estreitas. Quem entra pelos fundos está fadado à
ridicularização por seus semelhantes, que me amam.
Minha casa sempre está
aberta. Mas posso, simplesmente, fechar a
porta quando quero. Por isso, trate-me bem. Se você não for verdadeiramente bom
para sustentar-se por suas próprias pernas, por favor, gostaria de vê-lo
competir. Lealmente? A escolha é sua. Mas saiba que nem sempre permito que o
leal vença e quase nunca permito a justiça. O justo é o fracasso da sorte. Por
isso, dou empregos a árbitros. Função alguma têm em campo. Destruo-os se
quiser, mas nunca elevo-os. Faço espetáculo, com eles, em verdadeiros shows que
passa horas assistindo, ou sem eles, nas habituais reuniões entre seus amigos.
Mas minha diversão é, quando não posso inferir mais golpes aos profissionais
relacionados a mim por mero tédio,
sarcasticamente brincar com todos esses ditos juízes em campo. De vez em quando
divirto-me com as artimanhas financeiras que proponho. Muitos aceitam.
Entretenho-me.
O fato é que materializo meu desejo. Simples
assim. Gosto de jogos, carros, mansões,
mulheres, ou seja, tudo que se conquista com dinheiro. Irá discordar? Se sim,
está se enganando. E mais uma vez, ironicamente, tenta dar uma de politicamente
correto se, no fundo me ama, de verdade. Mas acho que finjo também, que finjo dissimular
o que realmente fingiria ser. Não, não pense muito. Não quero que pense. Apenas
que me idolatre. Apenas que passivelmente me assista, na mesma
emissora de sempre, com os mesmos personagens, com as mesmas interpretações,
nos mesmos horários, com os mesmos acontecimentos. E cuidado com os
jornalistas. Eles tentam enganar vocês, mostrando todas as minhas faces. Para
que se ocupar de todas as minhas faces? Já tem preocupação demais. Não se
esqueça de pagar a conta de luz, que vence na próxima semana. Do contrário,
será impossível de me ver, heim? E isso, eu não quero. Ah, não esqueça da conta
do telefone. Se necessitar, faça um empréstimo. Não se esqueça de comprar pão,
afinal, eu te dou o circo!
Minha ironia é seu pecado
e minha glória! Nos vemos em breve.
Resposta:
Caro futebol,
Longe das formalidades, tecerei um breve comentário sobre
suas declarações, em caráter oficial.
O senhor impõe insultos que, talvez, devem ser
suportados, confortados pelo conhecimento de que neste mundo chega o momento em
que o mais humilde dos homens, se conservar atento, pode vingar-se do mais
poderoso.
Esse é o
conhecimento que nos impede de perder a humildade.
Seu legado é eterno. Mas a maneira como conduz é efêmera.
Não somos ébrios. Somos sóbrios demais para esperar a hora oportuna.
Aguardo,
de fato, a hora de nos vermos, mas não nos cegamos para suas artimanhas.
Estamos atentos, meu caro. “É pela ironia que começa a liberdade”.
Att,
Torcedores e jornalistas, os que menos ganham com seu
astuto caráter. Somente um circo duvidoso.
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