por Felipe Vaitsman
Barcelona 5, Villareal 0. Real Madrid 6, Zaragoza 0.
Foram apenas as primeiras surras que os gigantes espanhóis
aplicaram em times considerados “resto” na Liga das Estrelas. Sim, se La Liga
tem tal fama, obviamente estamos falando de Messi, Fàbregas, Cristiano Ronaldo
e companhia. Ou seja: Barça e Real. O resto é resto, literalmente.
Tal conceito parece ser a tônica do Campeonato Espanhol
nesta temporada – como já foi na última. E a tendência é que o cenário seja
ainda mais discrepante.
A crise econômica pune severamente a Espanha e o futebol é
apenas mais uma vítima. Os reflexos são devastadores. Menos para Real Madrid e
Barcelona, que vivem um mundo de fantasias. Enquanto alguns times sequer
fecharam um patrocínio adequado para bancar os reforços da temporada, os
gigantes se beneficiaram da própria imagem – sempre muito forte no mundo todo –
para buscar investidores fora do país. Os blaugranas estampam no peito o patrocínio
de uma empresa ligada ao governo do Qatar e os merengues o de um site de
apostas.
As cotas televisivas também não ajudam. Barcelona e Real
recebem, juntos, 280 milhões de euros anuais, equivalente a 52% do valor total
da receita distribuída para os times da primeira divisão. Além disso, é muito
mais vantajoso para o governo espanhol ceder benefícios e financiar as dívidas
exorbitantes dos gigantes do que dos outros times. O retorno que eles trazem
para o país é enorme.
Para apaziguar a situação desesperadora, a Liga passou a
cobrar os direitos de transmissão de rádio, na tentativa de gerar divisas que
beneficiassem os times menores. Um “tiro no pé”. Além de prejudicar um serviço
básico, as rádios passam a transmitir mais jogos dos times que atraem mais
publicidade. Adivinhe quais? Barcelona e Real Madrid.
O abismo técnico e econômico entre
os gigantes e os demais preocupa. Grandes jogadores dos times do segundo
escalão (Athletic Bilbao, Atlético de Madrid, Sevilla, Valencia, Villareal) estão
abandonando a Liga. Os craques Agüero e Forlán, por exemplo, deixaram o
Atlético de Madrid. Vale também citar os casos de Renato e Luís Fabiano, que
saíram do Sevilla para voltar ao ascendente futebol brasileiro.
O Campeonato Espanhol, hoje, é
disputado por dois times. Os demais brigam por vagas na Champions League e na
Liga Europa, apenas.
Isso pode culminar com a implosão
do torneio. Com uma Liga previsível, onde dois jogos entre Barcelona e Real definem
o campeão, o torcedor perde o interesse, os investidores perdem interesse e os
próprios clubes (falo dos 18 “mortais”, claro) perdem interesse. Se os dois
gigantes não saírem da “bolha” que hoje os conforta e a diferença para os
demais continuar tão gritante, o Campeonato Espanhol poderá chegar ao seu fim. La
Liga está à beira do abismo.
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