quinta-feira, 13 de outubro de 2011

São tempos difíceis para o futebol brasileiro


(Foto: Divulgação)
Em algum momento, as regras do futebol passaram a ser definidas a partir de conceitos que nada têm a ver com bolas, traves, gramados ou jogadores. A preocupação em fazer a maior Copa do Mundo da história em terras brasileiras, por exemplo, não está no fato de ser este solo o “país do futebol”. Atende, em vez disso, aos interesses unicamente pessoais de Ricardo Teixeira e de todos os seus “discípulos”.

A alcunha de “Imperador” me parece, na atual conjuntura, muito mais cabível ao cartola do que ao jogador Adriano. Nesse império, cabe questionar o papel do tal rei Pelé. O embaixador se mostra alheio diante das polêmicas em torno de assuntos relacionados ao Mundial: atrasos nas obras, impasse quanto à escolha de estádios, questões relacionadas à Lei Geral da Copa. Para o “rei”, tudo não passa de “pessimismo generalizado”.

Pelé precisa compreender seu papel como representante da Copa do Mundo no Brasil e saber reconhecer os problemas na organização do evento. Sua postura contribui para a alienação da sociedade em relação ao Mundial, enquanto poderia influenciá-la positivamente, como tem feito o deputado federal Romário, outra figura emblemática do futebol brasileiro. O baixinho se mostra engajado e bem informado sobre tudo que diz respeito à Copa, questionando cartolas e políticos sobre as contas, o andamento das obras e as determinações previstas na Lei Geral da Copa.

E, se impera, na Confederação Brasileira de Futebol, um personagem como Teixeira, o que se pode esperar daqueles cujos cargos estão hierarquicamente abaixo? Os próprios dirigentes de grandes clubes utilizam-se da grande visibilidade na mídia para atacarem-se com palavras atravessadas e picuinhas. A gravidade das afirmações de Juvenal Juvêncio e Andrés Sanchez (para citar o exemplo mais recente) não representa distância tão discrepante em relação às agressões sofridas por João Vitor pelos torcedores palmeirenses.

A frivolidade em dizer que o presidente de um clube tem o “mobral inconcluso” é a mesma em revoltar-se com o time e, por isso, atacar um atleta. Dirigentes e torcedores estão em graus hierárquicos diferentes e, por isso, difere o armamento atribuído a cada um, sejam palavras ou gestos. Respaldo ideológico qualquer, entretanto, inexiste. Nenhum deles parece preocupado com o bem da “instituição”.

Subordinados aos dirigentes na enorme corporação, estão jogadores profissionais, que parecem muito se importar com a enorme burocracia que tomou conta do futebol brasileiro, além de, de uma hora para a outra, terem se tornado figuras cheias de personalidade, opinião e desejos. Nesse cenário, não se sabe ao certo onde foram parar a bola no pé, os dribles e os chutes a gol.

O ego de alguns jogadores parece se sobrepor àquilo que deveria movê-los dentro e fora de campo: o futebol, por si só. Um jogador pode dar as costas à convocação para a Seleção Brasileira; pode esquecer seu papel e, sentindo-se “desvalorizado”, agravar ainda mais a crise instaurada no clube de qual faz parte. Onde estão os gladiadores dos gramados brasileiros?

O profissionalismo, que cabe aos empregados desta verdadeira empresa, foi subvertido. Postos elevados permitem ofensas mútuas de caráter preconceituoso, enquanto subordinados rebelam-se e recusam-se a trabalhar, porém não sob a constitucionalidade de uma greve. A política da empresa, ironicamente, não envolve as leis do futebol. Esquecem-se de satisfazer os torcedores, verdadeiros consumidores inevitáveis dessa realidade.

Já não parece sensato falar em amor à camisa quando o que acontece fora dos gramados tem maior relevância do que a bola rolando; quando, em tempos de “times empresa”, jogadores passam por cima da grandeza dos clubes, torcedores agridem atletas e dirigentes transgridem suas verdadeiras funções.

@mandiml

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