sábado, 3 de dezembro de 2011

Domingo de clássico


Maracanã, década de 1950
(Foto: Divulgação)
Não se acorda como em qualquer outro dia quando é domingo de clássico. Despertar significa instantaneamente pensar que é “o dia”. E, a partir do primeiro piscar de olhos, todas as ações passam por algum juízo totalmente irracional de mentes torcedoras, para averiguar se alguma atitude precipitada prejudicará o time. 

Um clássico permite as mais loucas e injustificáveis superstições. Comer um prato específico, usar sempre a mesma camisa, sentar no mesmo lugar do sofá, da arquibancada, do boteco. Somente em um domingo de clássico se sente o coração apertar e bater forte enquanto o jogo não começa. Os ponteiros dos relógios parecem a cada minuto mais lentos. Um dia de clássico desafia todas as leis e nega quaisquer racionalidades. 

Contar as horas, calçar primeiro o sapato direito, segurar as chaves do carro com a mão esquerda, tomar uma lata de cerveja de dois em dois goles, usar o mesmo par de meias, impedir que a cunhada do primo de segundo grau vá ao estádio. A preocupação de milhões de torcedores parece mesmo contribuir para a boa atuação dos onze jogadores em campo. E a legitimidade disso tudo nunca deve ser questionada. 

Os quatro cantos da cidade anunciam o início do embate. A ansiedade é compartilhada na fila do pão, nas bancas de jornais, nos noticiários e na boca do povo. Mantos sagrados desfilam pelas ruas, cobrindo peitos apaixonados, receosos e, ao mesmo tempo, esperançosos. 

Praça Charles Miller, em 1951
A emoção de clássicos de mata-mata transborda na digladiação das equipes pela vitória, enquanto a multidão vibra a cada lance. E, para os mais tradicionais, que depreciam os campeonatos de pontos corridos, muito há para se comemorar em rodada derradeira que guarda as mais variadas expectativas. Nesse cenário, um joga pela vitória enquanto o outro batalha apenas pelo fracasso do rival. 

Terço em mãos, rádios de pilha preparados e próximos ao ouvido, punho cerrado, boca seca, grito de campeão entalado na garganta. E comecemos a partida. Em situações como essa, todo torcedor busca na reza e nas manias um conforto, alguma segurança ainda que frágil diante de sua impotência expectadora. 

Uma grande final está prestes a ser disputada não em um só estádio, com um confronto direto, mas em jogos espalhados pelo país, sob tensões e objetivos distintos. Que os espetáculos sejam dignos de futebol brasileiro, com direito a corações vindo à boca e frio percorrendo a espinha.

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