por Amanda Melo
Maracanã, década de 1950 (Foto: Divulgação) |
Um clássico permite as mais loucas e injustificáveis superstições. Comer um prato específico, usar sempre a mesma camisa, sentar no mesmo lugar do sofá, da arquibancada, do boteco. Somente em um domingo de clássico se sente o coração apertar e bater forte enquanto o jogo não começa. Os ponteiros dos relógios parecem a cada minuto mais lentos. Um dia de clássico desafia todas as leis e nega quaisquer racionalidades.
Contar as horas, calçar primeiro o sapato direito, segurar as chaves do carro com a mão esquerda, tomar uma lata de cerveja de dois em dois goles, usar o mesmo par de meias, impedir que a cunhada do primo de segundo grau vá ao estádio. A preocupação de milhões de torcedores parece mesmo contribuir para a boa atuação dos onze jogadores em campo. E a legitimidade disso tudo nunca deve ser questionada.
Os quatro cantos da cidade anunciam o início do embate. A ansiedade é compartilhada na fila do pão, nas bancas de jornais, nos noticiários e na boca do povo. Mantos sagrados desfilam pelas ruas, cobrindo peitos apaixonados, receosos e, ao mesmo tempo, esperançosos.
Praça Charles Miller, em 1951 |
Terço em mãos, rádios de pilha preparados e próximos ao ouvido, punho cerrado, boca seca, grito de campeão entalado na garganta. E comecemos a partida. Em situações como essa, todo torcedor busca na reza e nas manias um conforto, alguma segurança ainda que frágil diante de sua impotência expectadora.
Uma grande final está prestes a ser disputada não em um só estádio, com um confronto direto, mas em jogos espalhados pelo país, sob tensões e objetivos distintos. Que os espetáculos sejam dignos de futebol brasileiro, com direito a corações vindo à boca e frio percorrendo a espinha.
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