domingo, 4 de dezembro de 2011

Último ato do Brasileiro


O último ato da peça será encenado logo mais. Milhões de espectadores aguardam, ansiosamente, a resolução do triângulo amoroso, com a magnífica interpretação de Dona Taça e seus dois maridos, Corinthians e Vasco.

O paulista tem a vantagem; parece impressionar mais a Dona Taça. Mas ela, assim como Dona Flor, criação de Jorge Amado, não se esquece do outro pretendente e trata de se engraçar com a ginga e malandragem carioca. Dona Taça paquera o Vasco com tanta sedução que o encanta e faz acender a chama da esperança.

Mas Dona Taça parece um tanto quanto sádica. Diverte-se com o sofrimento alheio. Logo mais, Vasco e Corinthians terão oponentes de peso. Flamengo e Palmeiras, meros figurantes, têm a honra de poder decidir o destino amoroso da peça e elevar como quase-protagonistas, já que não lutam mais pela Dona Taça. E a nobre senhora aguardará, tranquila, o vencedor.

Mas quem pagou pelo espetáculo quer saber o fim da temerosa aventura do núcleo de terror. No melhor estilo Hitchcock, Cruzeiro, Ceará e Atlético-PR protagonizam o ato: “Dois Corpos que caem”. Apesar de tradicionais e experientes atores, dois deles dirão adeus ao palco principal e decretarão o fim temporário de suas atividades na turnê.

O Cruzeiro apresenta, assim como Madeleine (personagem de “Um corpo que cai”), tendências suicidas. Depende somente dele para a permanência nos palcos iluminados. Se, contra o Atlético-MG, empatar ou perder, pode cometer suicídio, o que talvez seja bem provável diante do futebol apresentado pela equipe. Mas a Raposa é esperta, não é? Ésopo, na fábula “A Raposa e as uvas”, já profetizou que ao não reconhecer e aceitar as próprias limitações, o vaidoso abre assim o caminho para sua infelicidade. Portanto, cuidado, Cruzeiro. Pode até se salvar em 2012, mas o descaso administrativo pode destiná-lo a mundos piores do que a Série B.

Ceará e Atlético-PR, abraçados, naufragados no mar de suas decepções, além de vencerem seus jogos, dependem da derrota da Raposa para permanecer na elite.

Romance e tragédia. Ingredientes essenciais para o final perfeito de uma peça magnífica. Bravo!


*Texto publicado no dia 04/12/2011 no Jornal Mantiqueira

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