sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Contos "maracanenses"


"Domingo à tarde, jogo no maior estádio do mundo. Torcidas em guerra, o grito arranhando a garganta...Nessa hora, (...) o estádio se transforma numa cidade. Uma cidade que explode a cada drible, a cada gol. A capital de fato do país do futebol." São as primeiras palavras da reportagem especial, publicada pela Revista Placar do dia 28 de dezembro de 1979.

Capa Revista Placar, dezembro/1979
É uma daquelas matérias nada semelhante aos moldes do jornalismo atual, padronizado e objetivo. Deve ser por isso que deixamos o papel de apenas alheios leitores e passamos a viajar dentro dela, a medida em que nossos olhares caminham por suas palavras e imagens. Seu título, "Explode, Maracanã". Pelas páginas (P. 18 a 23), entramos no cenário, vivenciamos a rotina, a agitação, a torcida, o dia de clássico.

Conhecemos também personagens. Figuras como o negrão forte, vindo do subúrbio e despejado pelos trens da Central do Brasil, que abria seu caminho na marra entre os torcedores. Como Rogério Pinto, cidadão que não sabe explicar ao PM como acabou dormindo sobre o famoso placar eletrônico. Algumas mais conhecidas, como Chico Buarque, com a bandeira do Fluminense e Jorge Ben, vestido com camisa do Flamengo. 

"E há os anônimos operários que veêm no estádio a chance de realização de grandes sonhos." É o caso do "Sr. Maracanã", Isaías Ambrósio, seu funcionário mais antigo. Em julho de 1948 trabalhou como pedreiro na construção do estádio, inaugurado dois anos depois, e foi telefonista e segurança antes de virar guia turístico do monstro "Maraca". Lá trabalhou até 2004, quando se mudou para Niterói.

O Sr. Maracanã (Fonte: esporte.uol.com.br)

Foi nessa quarta-feira que ele faleceu, aos 84 anos, por problemas cardíacos. Nascido em Bauru - minha cidade -, mudou-se para o Rio quando não passava dos 20 anos. Saiu hoje a matéria sobre seu falecimento no jornal daqui. Um "anônimo operário" que é hoje parte da história do estádio. Como tantos outros, que fizeram do Maracanã também, parte de suas próprias histórias. 

E é com Isaías que a reportagem sobre o Estádio Jornalista Mário Filho, o "Maior do Mundo", acaba. Mais um personagem real dessa "narrativa-perfil maracanense", que deixa viva a memória do estádio, como também de seus "protagonistas-figurantes": "Isto é o meu céu", diz o guia turístico, das tribunas, com seu sotaque de paulista do interior que dificilmente os estrangeiros entendem.  

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