sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Um templo: futebol



Aqui vai o meu depoimento sobre o que muitos não se perguntam. Por que gostamos tanto de futebol? Espero que você, que não gosta de futebol, leia para tentar entender o que um torcedor acha desse frívolo esporte. Não julgue, apenas tente sentir. Ou julgue desde que sua consciência permita.

Fãs do futebol e apaixonados (Foto: seletos.blogspot.com)

O Absolutismo não se faz presente ao passo que a democracia é deixada de lado. Não é Anarquista, mas não há posse nem comandantes, ou pelo menos não deveria ter. Apunhala com intensidade e decisão fascista os nossos pensamentos. Publica, nas histórias de nossas vidas, a biografia mais perfeita dos nossos sentimentos, que muitos tentam censurar. Mas saibam que o tolhimento, caros enrustidos, nada mais é do que o reconhecimento de altivez.  

Autoritário e indolente. Faz da alegria o mais funesto dos sentimentos. A paz e devastação no mesmo espaço-tempo, desafiando toda e qualquer lei natural e física. Na batalha, repousa. Na paz, enfurece-se.  A proporção de adversidades exata para a magnificência de um esporte chamado Futebol.

Imagine ouvir, após a receptiva condecoração alfa do esporte, uma cascata de gritos e de tentativa de materialização de sentimento. Homens civilizados tornam-se grotescos Hunos, sem expressão alguma, de sons guturais, ferozes, comemorando a arte de seus líderes, verdadeiros Átilas, decepando membro de seus adversários e ceifando as pradarias. Após a vitória, dividem com os guerreiros as carnes salgadas com o próprio suor. 

Por todos os lugares um desmedido choro, acompanhado de soluços galopantes: a histeria de paixão e de ódio. O respeito se faz necessário e a carícia da mão traidora não é bem vinda. Não quero diálogos politicamente corretos, nem política dentro do esporte. Quero mãos verdadeiras, que apesar de ferir o oponente, lhe dá a palma como reconhecimento da luta. Isso, basta-se.

Depois de todo o espetáculo iniciam-se as intempéries argumentativas, a bipolaridade retórica, a oscilação discursiva tradicional entre aqueles que se envolvem e protegem, até a morte, seus líderes. De um lado aqueles que, sem razão alguma, encontram motivos reais e provam que Napoleão não foi derrotado, mas foi traído por Deus, um ser maligno que enviou a mais temível tempestade de neve. Mas como se mede um homem senão pela altura e pelos feitos? Os mestres na oratória tratam de levantar os fatos heróicos expansionistas do general Napoleão e os sucessos passados de suas empreitadas, uma vez que nunca gozou de grande altura.

Do outro lado, a confortável situação do vencedor, daqueles que provam que Napoleão perdeu não uma batalha, mas uma Guerra inteira para um general que sequer existe. O General Inverno depredou as vidraças esperançosas incontestáveis do palácio real francês e cessou as graças expansionistas napoleônicas por toda Europa. Mas sabe por que as discussões nunca têm fim? Ora, isso é o mais magnífico do futebol. Ambos têm a certeza de que todo Napoleão tem o seu Inverno!

Mas garanto que é um mundo profissional sombrio. Poucos sobrevivem e os que garantem subsistência, correm o risco amplo de fenecer entre as grades da masmorra, como um verme que se intoxica com o cheiro daquilo que se alimenta: a carniça. 

E por que, deverá estar se perguntando, um depoimento como esse sai das mãos daquele que nunca foi sequer aspirante a uma vaga como gandula? Ora, simples. Porque arranjo um modo de tentar fazer parte de tudo isso, com palavras. 

Ah, as palavras. Um anagrama para a materialização do sentimento. Talvez o aparelho mais próximo daqueles que querem se aproximar das emoções. Não legitimam o escritor, o jornalista ou o civil, e não lhes tornam prepotentes a ponto de se acharem próximos dos deuses e de se estabelecerem como canal único  de um pós-mundo chamado sentimento. Se estou aqui traçando essas tortuosas linhas, é porque um dia, talvez, possa ajudar "os mortos a levantarem das tumbas e subirem as rampas" com emoção para presenciarem um espetáculo de futebol. 

Entretanto, é sempre valioso considerar que o que fazemos, o tempo desfaz. Em letras, provavelmente, terei meu sustento. Em letras reduzir-me-ei quando partir, sobrando apenas alguns mal feitos textos e simplórias frases na minha lápide. Um cego não poderá ler os escritos, um surdo não conseguirá ouvir tais palavras, ao mudo não é permitido que repita as letras. Para o futebol, basta sentir. É preciso, apenas, ter sentimentos. Por isso é tão grandioso.

Em letras, no entanto, terei tentado passar a minha vida toda auxiliando a traduzir, mostrar e dignificar o futebol. E não há motivações maiores. Terei escrito e lido letras. Mas terei vivido e pensado futebol. Sem pretensões, somente com o objetivo de Ser futebol. Isso tudo não é obrigação, é privilégio.
E se gosta de futebol, devo-lhe dizer: parabéns, você, comprovadamente, está vivo: o coração se faz presente entre as costelas do conhecimento. O futebol é um templo, com convicções!

@01GHOL

Nenhum comentário:

Postar um comentário