quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fantasma dos outros



Jung, grande estudioso da psicanálise ao lado de Freud, criou o conceito de inconsciente coletivo, uma espécie de sentimento dividido involuntariamente por pessoas que não se conhecem ou nem viveram em uma mesma época. Pois bem. Ontem, o futebol colocou esse conceito à prova. 

O Corinthians está na décima tentativa de conquistar a Libertadores e, com perdão  do trocadilho, deu o pontapé inicial rumo ao título inédito. Até aqui, nada de mais. 

Interessante é perceber que, há dez temporadas - isso quer dizer desde 1977 - o Timão bate na trave no campeonato internacional. Sejamos justos, porém, em dizer que o verdadeiro trauma na competição surgiu no início desse século, quando a equipe chegou à semi-final, seu melhor desempenho até hoje. 

São, portanto, 35 anos desde a estreia na Libertadores e cerca de 12 desde a chegada desse fantasma no Parque São Jorge. Cito a "casa" dos corintianos por uma questão muito simples: mudam-se os jogadores, o técnico, a comissão técnica, mas esse mesmo fantasma continua a rondar quer quem vista a camisa do Timão. 

São 12 anos de jogadores e técnicos que passaram e, mesmo assim, ontem, os atletas do Corinthians, que nem mesmo participaram do fiasco contra o Tolima, entraram em campo com sede de vingança, de retirar o amargo gosto da palavra Libertadores. Nunca antes o nome de uma competição veio tanto a calhar para um time. 

Eis que, ontem, os guerreiros corintianos brigaram a batalha de outros, como se as últimas dez derrotas na competição fossem deles mesmos. O sentimento de culpa, misturado ao da ansiedade da estreia, culminou em nervosismo, que por sua vez levou aos erros, muitos erros. O Deportivo Táchira aproveitou uma bola rifada na área adversária e fez um gol de bate e rebate, típico de quem enfrenta um time assustado.

O futebol tem suas particularidades. Os times parecem ter vida própria, uma entidade acima dos homens, dos gostos, dos sentimentos. Passam-se os anos, as pessoas, o estádios e os fantasmas permanecem. Sentimentos para os quais nem Freud ou Jung têm explicações.

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