domingo, 24 de junho de 2012

Clássico dos moribundos


(Foto: G1)

Não me lembro de nos arrastarmos desta maneira pela Linha Vermelha. Estaremos no Municipal, não tenha dúvidas, contrariados. E, por estarmos quase mortos, lutaremos desesperados. A empolgação de outros clássicos mostra-se sob os panos, um tanto envergonhada de se manifestar em ocasião tão inusitada.

Ingrato, pela nossa história, pelear nesta tarde de domingo, quando as atenções estiveram até então de costas, dando de ombros para a competição. Preferimos voltar àquele meio de semana tempestuoso, diante do que nos interessa, a duelar neste dia ensolarado. Deixemos que os ressacados da conquista alvinegra sorriam e continuem a ignorar a alegria alviverde dos vizinhos, e que palmeirenses celebrem a imparidade do momento sem se preocupar com a existência corintiana.

Proponho, coirmão, que cozinhemos a bola, mantendo-a seguramente distante das metas. E me garanta que manterá intactas as canelas que passearão pelo gramado. Não me leve a mal. É apenas um acordo para preservar a grandeza dessa tradição e os nossos reais objetivos. O fim da tabela chega a ser confortável. Há algo maior em jogo. Há um grito entalado que quer libertar as dores ou desjejuar após anos de marasmo. Que quer ecoar em outros campos, frente a outros duelantes. 

Demo-nos uma trégua. Estamos mortos, mas nunca estivemos tão vivos. Não pense que nos livraremos da importância do dérbi, mas, cá entre nós, é um desperdício encararmos o embate diante de tamanha distraçãoSe é que ignoramos o campeonato até agora, façamos isso juntos. E busquemos algo maior, à parte de nossas divergências. Busquemos o sonho.

Feito isso, que afundemos de mãos dadas, abraçados às nossas glórias individuais. As cores que se dividem pelo círculo central misturam-se para comemorar, por assim dizer. Não deixaremos de gritar aos nossos respectivos combatentes, mas que a tensão se alivie, que a festa não se alongue pela madrugada, que a seriedade fique para depois. Um brinde aos moribundos.

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