sábado, 9 de junho de 2012

Elementar


Com o sumiço das provas contra Ronaldinho Gaúcho, só restou à presidente flamenguista Patricia Amorim um último recurso: buscar ajuda profissional. Conseguirá o mundialmente famoso Sherlock Holmes encontrar o exame desaparecido e comprovar que o jogador tinha álcool no sangue em um treino?
Abaixo, um trecho retirado do diário do Dr. John Watson, companheiro do célebre detetive inglês.

Era uma fria tarde de inverno quando uma mulher, envolta em um espesso casaco vermelho, entrou em nossa sala de estar.
     - Sente-se – Holmes indicou uma cadeira à senhora – e conte-me o que a fez vir até mim em tão nebulosa tarde.
     - Oh, Mr. Holmes – a mulher tinha um quê de desespero em sua voz – encontro-me em uma estrada de desgraça e não sei se dela sairei tão cedo!
     - Bem se vê que está em apuros – começou Holmes, analisando a nossa visitante – percebo que anda aflita e que suas recentes decisões podem não ter sido as melhores, Mrs. Amorim.
     - Ora, essa – a mulher enrubesceu – como pode saber quem sou e o que tenho feito?
     - Elementar. Leio os jornais com voracidade, sei que você é a presidente do Flamengo e das coisas que tem feito. Não entendo, contudo, o motivo de sua visita. Procura por um conselho? Porque, se sim, diria pra se livrar logo também do Adr...
     - Não, não, Mr. Holmes – interrompeu Patricia – receio que desta vez, esteja enganado. Venho tratar de algo de extrema seriedade: um exame.
     - Exame?
     - Sim, um exame de sangue do Ronaldinho Gaúcho, que comprova que ele estava com álcool no sangue em um treino. Esse exame é tudo para mim, mas desapareceu!
     - E quando foi a última vez que o viu?
     - Na verdade, não sei – Mrs. Amorim parecia desconcertada – mas Mr. Rafael de Piro, meu vice-diretor jurídico, garante que o exame existe e que com ele ganharíamos o processo contra Mr. Gaúcho. Além disso, sumiram também registros de advertências ao jogador.
     - Entendo. Por que estão sendo processados?
     - Não pagamos alguns salários, mas isso não vem ao caso. Disse à imprensa que seria implacável, mas está cada vez mais difícil. Minha imagem, Mr. Holmes, nunca foi das melhores, e agora temo perder toda a credibilidade. Coloquei todos atrás do exame no Flamengo, mas até agora, nada!
     - Seu caso é um tanto quanto curioso, Mrs. Amorim. Mas as informações são bastante escassas, e a história está um pouco mal contada.
     - Ora essa, sinto-me ofendida, Mr. Holmes! Não gostaria de conseguir uma briga também com o senhor! Já me bastam Ronaldinho, Atlético Mineiro e Palmeiras!
     - Palmeiras? – Holmes deu um sobressalto – Mas que tem o pobre Palmeiras nessa história?
     - Ora, tentaram negociar com o Ronaldinho quando ele estava no Flamengo.
     - Entendo – disse Holmes, com um sorriso irônico – e a senhora tem provas disso? Algum exame, talvez?
     - Não...
     - Agora algo me veio à memória, Mrs. Amorim: não foi o seu Flamengo o time que tentou aliciar o Kleber, então no Palmeiras, no ano passado?
     - Ah, veja bem, era diferente...
     - Sinto muito – cortou Holmes, incisivo – receio não poder ajudar nem a você, nem ao Flamengo. Está além de minha capacidade, devo admitir.
     - Mas você é Sherlock Holmes! O grande detetive, que derrotou o Professor Moriarty e...
     - Passar bem, Mrs. Amorim – Holmes indicou a porta à nossa convidada, que deixou a sala praguejando. Depois que Patricia bateu a porta, Sherlock dirigiu-se a mim – E você, meu caro Watson? Que acha de tudo isso?
     - Penso eu que o Flamengo está na m...
     - Não, não isso – Sherlock me interrompeu – isso é elementar! Pergunto sua opinião sobre o desaparecimento do exame.
     - Ah, claro! Na minha opinião, tal documento nunca existiu. Foi um blefe da Patricia e do Flamengo. Essa história, como todas por lá, está muito mal contada...
     - Deveras, meu caro! Acho que podemos tirar uma conclusão de tudo isso: o Flamengo vive em um mundo de ilusões, onde acha que pode trazer jogadores que jamais conseguiria pagar, e depois se vê envolvido em tais situações. Acho que antes de encontrar o tal exame, se é que ele existe, deveriam procurar por outra coisa na Gávea...
     - E o que seria? – perguntei.
     - Vergonha na cara, meu caro Watson.
     Holmes então deu o assunto por encerrado, acendeu um de seus cachimbos e repousou até o final da tarde.

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