domingo, 1 de julho de 2012

Olhar sobre o protagonista





Foto: AFP Photo/ Giuseppe Cacace

Milhões de restos mortais que algum dia denominamos humanos podem derramar as lágrimas de sangue de suas vísceras. Com convocação solene e circunstancial, rogo-lhes: levantem Homens de fé de suas tumbas e subam a rampa do êxito para que contemplem o que outrora eram impedidos. Façam-nos chorar com suas fés que decretaram, em outros idos, o ponto final de suas existências, o seu miserável, desumano, infeliz e desolador fim. Convidemos o execrável senhor dos seus destinos, que um dia fizeram-lhes chorar por suas crenças, para provar que seus sangues foram derramados pela sobriedade de caráter e hombridade. 

Mostrem o porquê de Espanha e Itália estarem aguerridos, ferozes, como bons guerreiros em seus solos.  
O que vamos assistir, nas terras ucranianas, nos arredores sofridos de Kiev, já é história e já é lenda. A manifestação pura do futebol dos Espanhóis - furiosos, dribladores, rápidos e eficientes - e dos Italianos - esquadrões fortes, de vontade sobre-humana, disciplinados - terá em seu palco o ápice. Quem testemunhou Picasso produzindo “Guernica”, ou quem acompanhou o desastre de sua dignidade não imaginaria tamanho feito. É nos seus palcos que será construída a mais bela história de superação escrita por qualquer humano. Felicito a festa do futebol. Congratulo a poesia de seu sofrimento. Imploro redenção dos humanos.


"Cadê o futebol?", perguntaria o “idiota da objetividade”, clamando por aquilo que, ignorante, não pode possuir: a verdade futebolística. Seus antepassados lutaram para fazer sua sórdida existência contemplar e reverenciar o espetáculo. Resistiram ao “Heil Hitler” para vociferar, como um vômito de honra, “Fizsculthura”. Imagine quem testemunhou não só a vitória por cinco bons tentos do Start, ucranianos, sobre os Flakelf, militares alemães da Luftwaffe, mas o coser, com linhas da honra e agulha da dor, o heroísmo da resistência nos seus uniformes sujos de humanidade.


Jogo entre Start e Flakelf (Foto: autor desconhecido)
Esperemos pelos 90 minutos mais representativos dos últimos tempos, que transcendem o mercado futebolístico e a disputa, meramente burocrática, entre espanhóis e italianos. Creditemos nossas crenças em uma dessas lutadoras confederações. Mas só isso? Postemo-nos como honestos, no conceito medíocre humano. Sejamos francos com nossas crianças ao não esconder as súplicas de Chernobyl. Demonstremos o choro do outro pelo nosso sorriso. Sejamos felizes, no sentido puro da palavra e, conseqüentemente, menos humanos.

Usina de Chernobyl, após acidente nuclear (Foto: autor desconhecido)

Sozinha, Kiev aguarda o espetáculo ser apresentado. Observa, atentamente, a postura de seus filhos e de outros povos. Alegre, propõe a redenção humana em forma de esporte. Dialoga com a dor de outrora e a dignidade feliz do presente. Não quer status, não precisa dos holofotes, não necessita se mostrar, não pretende roubar as luzes de mercado nem requerer um pedido de desculpas, nem ao menos o reconhecimento. Quer apenas consciência. O protagonismo do que acontece logo mais é puramente uma questão de direcionamento.

Foto: EFE

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