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Foto: AFP Photo/ Giuseppe Cacace |
Milhões de
restos mortais que algum dia denominamos humanos podem derramar as lágrimas de
sangue de suas vísceras. Com convocação solene e circunstancial, rogo-lhes: levantem
Homens de fé de suas tumbas e subam a rampa do êxito para que contemplem o que
outrora eram impedidos. Façam-nos chorar com suas fés que decretaram, em outros
idos, o ponto final de suas existências, o seu miserável, desumano, infeliz e
desolador fim. Convidemos o execrável senhor dos seus destinos, que um dia fizeram-lhes
chorar por suas crenças, para provar que seus sangues foram derramados pela
sobriedade de caráter e hombridade.
Mostrem o porquê de Espanha e Itália
estarem aguerridos, ferozes, como bons guerreiros em seus solos.
O que vamos
assistir, nas terras ucranianas, nos arredores sofridos de Kiev, já é história e
já é lenda. A manifestação pura do futebol dos Espanhóis - furiosos, dribladores,
rápidos e eficientes - e dos Italianos - esquadrões fortes, de vontade sobre-humana,
disciplinados - terá em seu palco o ápice. Quem testemunhou Picasso produzindo “Guernica”,
ou quem acompanhou o desastre de sua dignidade não imaginaria tamanho feito. É
nos seus palcos que será construída a mais bela história de superação escrita
por qualquer humano. Felicito a festa do futebol. Congratulo a poesia de seu
sofrimento. Imploro redenção dos humanos.
"Cadê o futebol?", perguntaria
o “idiota da objetividade”, clamando por aquilo que, ignorante, não pode
possuir: a verdade futebolística. Seus antepassados lutaram para fazer sua
sórdida existência contemplar e reverenciar o espetáculo. Resistiram ao “Heil
Hitler” para vociferar, como um vômito de honra, “Fizsculthura”. Imagine quem
testemunhou não só a vitória por cinco bons tentos do Start, ucranianos, sobre
os Flakelf, militares alemães da Luftwaffe, mas o coser, com linhas da honra e
agulha da dor, o heroísmo da resistência nos seus uniformes sujos de
humanidade.
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Jogo entre Start e Flakelf (Foto: autor desconhecido) |
Esperemos pelos
90 minutos mais representativos dos últimos tempos, que transcendem o mercado
futebolístico e a disputa, meramente burocrática, entre espanhóis e italianos.
Creditemos nossas crenças em uma dessas lutadoras confederações. Mas só isso? Postemo-nos
como honestos, no conceito medíocre humano. Sejamos francos com nossas crianças
ao não esconder as súplicas de Chernobyl. Demonstremos o choro do outro pelo
nosso sorriso. Sejamos felizes, no sentido puro da palavra e, conseqüentemente,
menos humanos.
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Usina de Chernobyl, após acidente nuclear (Foto: autor desconhecido) |
Sozinha, Kiev
aguarda o espetáculo ser apresentado. Observa, atentamente, a postura de seus
filhos e de outros povos. Alegre, propõe a redenção humana em forma de esporte.
Dialoga com a dor de outrora e a dignidade feliz do presente. Não quer status,
não precisa dos holofotes, não necessita se mostrar, não pretende roubar as
luzes de mercado nem requerer um pedido de desculpas, nem ao menos o
reconhecimento. Quer apenas consciência. O protagonismo do que acontece logo
mais é puramente uma questão de direcionamento.
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Foto: EFE
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