sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crônica: Eu vi!

Capítulo 1: O preâmbulo de um espetáculo.

por Gabriel Oliveira

Um dia, em Santos. Uma quarta-feira, na cidade portuária, de quatrocentos e trinta mil habitantes. A rotina. Trabalhadores recolhem-se no linear do dia. Nas ideias, a continuidade do cotidiano: a comida, a TV e a cama. No entanto, o crepúsculo, que fizera adormecer os raios alvos de sol e acordou a fera sombria, alvejadas por pontos não menos alvos, cintilantes, que demonstravam a imponência da noite, prenunciava o altivo confronto que aconteceria na Vila, onde muitos heróis, meros mortais, mas de futebol indômito, marcaram, não com sangue, mas com memórias indeléveis, suas histórias, alcançando a imortalidade. Santos e Flamengo, confronto que por si já traz uma carga histórica gigantesca de verdadeiros monstros do futebol, degladiar-se-iam diante de uma só torcida (santista), para consolidar a história de guerreiros contemporâneos, assim como Pelé e Zico, por exemplo, estabeleceram outrora.

Quem dera pudesse estar naquele estádio. Quem dera pudesse vivenciar os maiores noventa minutos do futebol brasileiro desse ano. A noite, valeu pelo dia inteiro, fez esquecer a rotina, suplantou as expectativas, venceu o sono, o cansaço daqueles que há pouco davam o suor no maior porto da América Latina. E por que não afirmar aqueles que deram o suor em todo o Brasil? O clássico do futebol não glorificou somente os presentes. Mas, também, os ausentes, que depositaram ali as almas, diante da impossibilidade de presenciar o espetáculo.

Antes mesmo da bola rolar, o confronto tomou grande parte dos noticiários esportivos devido a magnitude dos envolvidos. Verdadeiros comandantes de tropas outrora vitoriosas, colecionadores de títulos, figuravam na liderança de seus respectivos grupos. Generais que aliam a severidade à inteligência, a estratégia à raça, a razão ao coração. Juntos, nove títulos brasileiros. Explosivos, inteligentes, admiradores da sensatez e do brio do futebol. Luxemburgo, às vezes, de fato, acha-se maior do que o espetáculo. Mas o seu currículo auxilia a obliteração de certa mancha de seu caráter. Pudemos, pelo menos, analisar um Vanderlei concentrado nas ações do campo e não extra-campo. DE fato, os negócios ($) continuam e o carteado, hobby o qual muito estima, persistem em atrapalhar sua trajetória profissional. Nada humilde. Mas de certo, um profissional eminentemente comentado. Um autor de espetáculo.

Muricy, às vezes, peca pelo excesso. Mas excesso de vontade, que cega sua razão e o faz apenas ser guiado pelo coração. Erro? Não, apenas mudança de postura. Mas, muitas vezes, a alternância entre sentimentos ameaça até os mais poderosos reis da Terra. De caráter, nenhuma queixa. Demonstra-se um dos mais humildes, centrados e trabalhadores do meio futebolístico. Ranzinza, é fato. Mas sacrificaria parte do meu humor cotidiano por metade do comprometimento desse profissional.

No campo de batalha, os times apresentavam soldados de elite prontos para atirar. O Flamengo possuia um reforço venerável, aquele que em qualquer lugar do mundo é considerado Rei. Mas aqui a cobrança sempre é maior. A imagem de um decadente faz encobrir o talento, mas em uma crescente recuperação providencial. Aquele camisa 10 que mesmo não mostrando “o” futebol, poderia mudar toda a história do jogo: Ronaldinho Gaúcho, o Capitão.

O Santos entrava em combate com dois grandes jogadores. Os homens (ou meninos?) de confiança do chefe. Aqueles que provaram ao mundo as suas habilidades. O primeiro, em estado de graça: faz com a bola o que quiser. Neymar, o grande: um futebol inesgotável, de pura vaidade e beleza, com dribles rápidos e tiros precisos. Que cresce, a medida que o adversário enfurece. Como nas velhas touradas espanholas. Domina o touro, por maior que seja. Passadas habilidosas e retóricas da muleta estremessem até o mais temível animal.

Para auxiliá-lo, o fiel escudeiro, aquele que coloca a bola onde quiser. O último passe antes do gol. O cérebro, a razão, sem dribles e sem muitos tiros. Apenas o prazer de servir. Esse é Paulo Henrique Ganso, o equilibrado, que dignifica a posição e estabiliza o time. Um discreto distribuidor de jogadas. Um exímio poeta que constrói toda a escrita para alguém assinar. Não quer créditos. Apenas estrutura a obra para alguém concluí-la com primazia.

E por esses combatentes, a luta, aguerrida, teve um caráter especial. Mas não nos esqueçamos dos não menos importantes lutadores que compunham os respectivos times. Ronaldinho, Neymar e Ganso não formam equipes. Da união de seus parceiros nasce a verdadeira luz que guia o caminho e a bola, em movimentos harmônicos, visando estufar as redes. Cada qual com suas características.

To be continued...

Nenhum comentário:

Postar um comentário