segunda-feira, 25 de julho de 2011

"¿Tú juegas al fútbol?"


por Gabriel Oliveira

Fascínio, dedicação, raça e persistência. Principais ingredientes de uma receita a qual o mundo se rende, hoje, com incrível prazer e encanto. Muitos e muitos anos para alcançar tais proporções em um mundo dominado por brasileiros, é fato. E não é para menos, afinal, o Brasil construiu e difundiu, com primazia, a imagem do Futebol no mundo, com jogadores que dispensam qualquer tipo de apresentação. Atletas que nos fizeram e fazem, com orgulho desmedido, de quatro em quatro anos, bater as mãos no peito e vociferar: "Somos brasileiros com muito amor". Mas seria narcisismo exaltar , mais ainda, os feitos do Brasil para o futebol. Eles são o que são porque existem, utilizando da mais complexa filosofia. Não precisamos louvar Pelé e Garrincha, por exemplos. Eles falam por si, com o futebol de mais alto nível que apresentaram. Mas remeto ao leitor um outro panorama. Situação que decorre da receita, aquela que, atualmente, está dando resultado.

Argentino, baixinho, camisa dez, que anda “gambeteando” todos. Qualquer semelhança é mera coincidência: Lionel Messi é um craque em estado de graça. Artilheiro, brigador, dedicado, habilidoso. A comparação é inevitável. Não pela semelhança, em si,mas por pertencerem ao seleto grupo de argentinos que deram ao mundo um motivo para sorrir, seja por admiração, por vergonha de tomar seus dribles, seus gols, seja por fascínio. Maradonna e Messi. Dois monstros. Ainda que considere aquele melhor que este, não podemos deixar de exaltar Lionel, que revela ser “o”, e não “um”, jogador de futebol. Eleito melhor atleta nos últimos dois anos, Messi foi criado, literalmente, em um time espanhol. Aos treze anos, foi “adotado” pelo Barcelona, clube da Espanha.

Aproximadamente cinquenta e oito milhões de torcedores. Esse é o número de pessoas que vibram com os dribles de Messi e cia. O Futbol Club Barcelona foi fundado em 1899 e reúne um vasto número de troféus: É o atual campeão da Liga dos Campeões, tricampeão espanhol, bicampeão da Supercopa da Espanha, e pode se tornar campeão do mundo, no final desse ano. Esse é o clube que não precisa contratar para ganhar campeonatos: sustenta-se com os fortíssimos alicerces de uma categoria de base altamente benéfica, tendo em vista que grande parte de seus jogadores foram revelados pelo próprio time. Atletas que formam, basicamente, a seleção da Espanha.

Os espanhóis do Barcelona, somados a outros, não menos importantes, compõem o elenco da Seleção da Espanha. Após levar o caneco da Eurocopa, no ano de 2008, em 2010, a seleção espanhola demonstrou toda sua “Fúria”. Apesar de apresentar um futebol até certo ponto “burocrático” para os jogadores que tem, chegou a final, pela primeira vez na história. Satisfatoriamente, venceu a Holanda, e foi a campeã do mundo em 2010. Aliás, essa Copa do Mundo, além de confirmar a supremacia do futebol espanhol, consolidou a ascensão de um craque que há tempos chamava a atenção. De fato, não ocupa páginas inteiras de jornais, como David Villa, por exemplo. Mas sempre soube trabalhar com seriedade e raça: agraciado com o prêmio de Melhor Jogador da Copa do Mundo de 2010, Diego Fórlan, o atacante uruguaio deu um passo largo na carreira, e desponta como um dos principais craques do futebol mundial.

Diego Forlán Corazzo conhecido como Cachavacha, La Bruja ou Dieguito, por onde passa, deixa sua marca: o gol. Destacado pela raça, habilidade, pelo faro artilheiro e, claro, pela extrema competência, o atacante foi agraciado com a vaga, quase que vitalícia, no Uruguai: Um verdadeiro casamento entre a seleção e La Bruja. Entretanto, o Uruguai conta com algo mais. Conta com um time. E afirmo que não é o melhor das equipes mundiais, entretanto a coesão é tamanha, que o entrosamento ameaça a defesa mais bem postada, o meio de campo mais equilibrado e o ataque mais eficiente. A competência do grupo não se deve ser atribuída somente à comunhão de Fórlan e seleção. E sim jogadores entre si, pois com as bolas nos pés, todos se transformam em um, fazendo valer-se da honra e da vontade para satisfazer a gana pela vitória. E a Copa do Mundo de 2010 já deu uma prévia do que se podia esperar do Uruguai: Um quarto lugar, a melhor colocação de uma seleção americana na África do Sul. E mais: a seleção uruguaia consolidou, mais que nunca, seu domínio futebolístico e venceu a Copa América, conferindo a supremacia anunciada ano passado.

Não posso garantir, portanto, que chegaremos a uma conclusão profética se continuarmos nessa associação de ideias. Apenas a tendências. Mas os fatos mostrados nos deixam claros que não é da noite para o dia que as coisas ocorrem. Passamos muitos e muitos anos em busca da redenção. Fato esse, muitas vezes não entendidos pelos brasileiros, reféns de números e resultados imediatos. Entretanto, o futebol ganhou, com a dedicação, raça e persistência, novos protagonistas. A América é do Uruguai. A europa é do Barcelona. O Mundo é da Espanha. O melhor ser humano dentre todos que jogam é argentino. O Futebol, hoje, "fala" espanhol.

P.S.: Para o leitor mais atento, escrevi “Gambeteando” para me referir ao Messi. Na realidade, a palavra alude aos dribles de Maradonna. Gambetear ficou arraigado ao ideário futebolístico como sendo característico dos dribles do argentino. Gambetear: “Esquivar o corpo para escapar ao golpe do adversário”.

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