domingo, 21 de agosto de 2011

"A Humildade acaba aqui"


Por Gabriel Oliveira

Como diria Nelson Rodrigues: “A humildade acaba aqui”. Amigos, o Brasil é o dono do mundo! Desde ontem comemoramos a grandeza de meninos, contemplamos, ovacionamos e aplaudimos o altivo futebol. Esses meninos Grandes. Garotos que não se prendem a correntes de níquel e negam as algemas dos contratos publicitários milionários. Esses sim. Profissionais que ainda jogam futebol. Simples como o futebol deve ser e eficiente como a vida os ensinou. Meninos que lutam pela sobrevivência em um meio feroz, que ainda dão sangue, raça, que comemoram de modo inocente, ingênuo um simples gol. Meninos que provocam com o futebol, e apenas com ele, os adversários. Garotos que injetam as reais paixões e motivações em campo e aproveitam-se delas enquanto possuem. Jogadores que deveriam ensinar a Marrecos o simples futebol pragmático, aquele que faz cravar, com linhas de ouro, a quinta estrela no peito brasileiro. Orgulho puro, meu amigo. Como fizemos outrora, em 2002, agora fazemos com mais orgulho, mais vontade, insuflando no peito o ar que não nos cabe e gritando: Nossos meninos são pentacampeões mundiais! Somos todos mães e pais, vibrando com o suor derramado em campo, com a vontade despendida na gana da vitória, com o prosaico sentimento infantil que faz da bola, uma aliada, uma amiga pessoal e não um negócio profissional.

A batalha foi terrível. Encaramos uma das melhores seleções da Copa do Mundo. Portugal chegou a decisão sem tomar um gol sequer. Verdadeiros defensores do reino de Afonso Henriques, impedindo que qualquer ofensiva lograsse êxito. Estavam dispostos a lutar pela pátria e marchar sobre os canhões brasileiros. Trinta e seis mil pessoas acompanharam o incrível confronto, dentre os quais algumas personalidades que são meros apêndices do futebol. Alguns, com os nomes escritos com sangue, de ostensivo desprezo da massa (vide Ricardo Teixeira, Joseph Blatter) , outros que não colocaram de fato o nome no futebol, e que, nesse momento, não passam de uma ilustração obscura do que ainda podem se tornar (vide Mano Menezes). Mas o foco real estava no campo. A decisão havia começado e o Brasil inteiro afogava as frustrações dos “homens” (Seleção de Mano), nos meninos. Mas parecia uma equação inversamente proporcional, afinal os meninos ganharam status de homens, pois cresceram, apesar do fardo que tiveram de carregar.

O Jogo

Aos quatro minutos do primeiro tempo, uma surpresa e tanto. Oscar cobrou uma falta na intermediária e cruzou para a área. A bola seguia seu rumo quando encontrou a cabeça de um português. Sérgio Oliveira tirou a possibilidade de reação do goleiro e a bola encontrou o canto direito das redes. Mika, goleiro luso, após 619 minutos, tomara o primeiro gol da Copa do Mundo.

A alegria brasileira, no entanto, durou cinco minutos, apenas. Em jogada individual de Nelson Oliveira, muito veloz, escapou pela direita, chegou à linha de fundo e chutou cruzado. Alex antecipou-se aos zagueiros brasileiros e bateu pro fundo das redes. Era o empate.

O Brasil pareceu ter sentido o golpe. Fora, de fato, forte. Na realidade o golpe maior é oriundo do próprio brasil: a seleção criou uma ilusão e projeção de jogo a partir do primeiro gol, que veio muito cedo. A sensação de satisfação e prazer com o jogo tomou conta dos jogadores e torcida. Por isso o time acomodou.

Após o primeiro gol dos lusos, então, a equipe estava irreconhecível. Errava muitos passes, não conseguia sair com a bola e parava nos escudos da tropa de Afonso Henriques. No quesito marcação, Portugal armava-se de tal forma que conseguia dar o bote eficaz e alçar-se rapidamente ao ataque. O método luso envolveu toda e qualquer possibilidade de respiração brasileira. Os portugueses utilizavam-se dos flancos do campo e aproveitavam-se da distância entre os laterais e zagueiros do Brasil para fazer a jogada, sempre com Nelson Oliveira. O primeiro tempo terminou empatado. Ney Franco, astuto, promoveu a entrada de Negueba e Allan, nos lugares de Willian José e Gabriel Silva. As mudanças, no entanto, a curto prazo, não surtiram efeito e o Brasil continuou tropeçando em si mesmo.

Logo aos 14 minutos, Nelson Oliveira avançou pela direita, veloz, ganhou de Juan, chegou na linha de fundo e bateu cruzado. Em uma manobra inexplicável, Gabriel aceitou o chute e a bola estufou as redes. Porgual virara o jogo.

Ney Franco, promoveu a terceira substituição: Colocou Dudu no lugar de Philippe Coutinho. O técnico alçou a equipe ao ataque e Portugal recuou todo time. O Brasil tocava a bola até o meio campo, quando encontrava a muralha humana composta por jogadores lusos. A ofensiva brasileira não surtia efeito nas tropas de Dom Afonso Henriques. Aos 32 minutos, no entanto, a persistência e paciência surtiram efeito. Dudu, em jogada pela esquerda, penetrou o campo ofensivo e bateu cruzado. O goleiro Mika espalmou para dentro da área e lá estava Oscar. Mais uma vez empurrou para as redes. Empatada a batalha. Seria preciso mais dois tempos para se conhecer o campeão mundial.

A prorrogação contrapôs um Portugal exausto, extremamente cansado, mas com espírito guerreiro e raça, e um Brasil inteiro, disposto a correr mais para garantir o título. Os lusos haviam perdido o principal jogador: Nelson Oliveira. Apesar de ainda estar em campo, o jogador mancava e arrastava-se em campo.

A única e última alternativa das equipes era lançar-se ao ataque. Foi o que Portugal e Brasil fizeram. Com os times abertos, qualquer contra-ataque se transformaria em uma arma mortal.

Aos seis minutos do segundo tempo da prorrogação, Oscar, o iluminado, em jogada pela direita, cruzou a bola para a área. No entanto, o pé abençoado de Oscar desferiu um golpe carinhoso na bola que fez com que encobrisse Mika e entrasse caprichosamente no gol. Quis cruzar e a bola entrou. Noite inspirada de Oscar. O Brasil virou o jogo no último tempo da prorrogação.

O Título

Diante da platéia atenta, o Brasil tornou real o sonho alado daqueles jovens. Sonho infantil, sonho verdadeiro. Grandes meninos transformados em homens, de maneira natural, singela, respeitosa e, mais que tudo, verdadeira. Enquantos outros escondem-se por trás do epíteto “meninos”, em meio a homens, esses garotos Sub-20 tornam natural a grandeza do efeito do amadurecimento profissional e da espantosa virtude da raça. Todos materializaram a paixão, o ímpeto, a vontade. Amigos, vocês conseguem ver que não é preciso ser perfeito para vencer? Esses garotos correram, suaram, brigaram, erraram. VENCERAM. E a memória traz à tona o texto “ Um mês para ser esquecido” do colunista Lucas Leite, na qual prenuncia a possível redenção de nosso futebol através dos meninos do Sub-20. Meninos, não. Homens do Sub-20. Salvaram o ano. Glorificaram o dia. Acenderam a chama apagada por “homens” milionários e “meninos” negociantes da Seleção Brasileira de Mano. Por isso, Lucas, comemoremos. A vitória dos jovens Homens. “Doce e santa vitória”. Somos penta. E que a humildade acabe aqui.



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