por Felipe Altarugio
Recentemente, tenho assistido às
partidas do Brasil no Mundial Sub-20. Sinto muito, mas percebo cada vez mais um
processo de ‘desbrasileirização’ da seleção.
Os brasileiros estão mais sérios.
E percebe-se isso, a princípio, no nome dos jogadores. Apelidos deram lugar aos
nomes compostos. Acostumados aos ‘descontraídos’ Bebetos, Dungas, Zinhos e
Kakás, hoje vemos os ‘carrancudos’ Bruno Uvini, Philippe Coutinho, Willian
José, Lucas Leiva, Lucas Piazon.
Onde foram parar os apelidos?
Característicos do Brasil, aqueles nomes que não necessitavam mais de duas
sílabas para impor respeito. Duas sílabas repetidas, como Vavá e Didi. Duas
sílabas eficientes, como Cafu. Duas sílabas precisas, como Zico. Zico, que além
de Zico, era Galinho. Nomes criativos de gente criativa, como Tostão e Careca.
Garrincha, que além de Garrincha, era Mané. E como esquecer os diminutivos?
Ronaldinhos, Leivinhas, Jairzinhos, Zizinhos, Juninhos, Serginhos, Jorginhos...
Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo; da esquerda para a direita |
Vi uma grande Seleção, é verdade.
Em 2002, o Brasil ganhou o penta, e ganhou bonito. A Copa de Ronaldo(inho).
Copa de Rivaldo, Copa do Brasil. Cafu e Roberto Carlos nas laterais, uma das
maiores (senão a maior) dupla de alas de todos os tempos. Fizeram por merecer a
quinta estrela no peito. Exclusiva do Brasil.
Apesar do fracasso na Copa da
Alemanha, a Seleção de 2006 era também um prato cheio para o amante do
verdadeiro futebol: Ronaldinho, Kaká, Ronaldo e Adriano faziam valer com a mera
presença qualquer ingresso. E tinha um Zé, o Zé Roberto. Melhor jogador da
Alemanha. No banco, Robinho, Juninho Pernambucano. Um timaço. Por coisas do
futebol, não jogou bem na Copa.
Independente disso, a Copa de
2006 foi um marco. Um divisor de águas, eu diria. Antes dela, valia a pena
parar de fazer qualquer coisa para ver o Brasil jogar. Ainda que fossem os
amistosos contra Hong Kong ou Haiti, a exibição do Brasil fazia valer o jogo. O
que contraria a opinião pública de que os jogos do Brasil estão chatos por
causa dos adversários.
Sou fanático por futebol porque
vi Ronaldinho entrar, dar chapéu e meter pro gol. Porque vi Roberto Carlos
colocar curvas quase sobrenaturais na bola. E, na época, não era preciso uma
Jabulani para chutar assim. Sou fanático por futebol porque vi Ronaldo, o
Fenômeno, com ‘cabelo de Cascão’, fazer gol e sair balançando o dedo.
Hoje a situação se inverteu: vejo
o Brasil jogar apenas porque sou fanático. Os jogos não agradam mais. E não é
uma questão de resultado. Mesmo quando o Brasil ganha suas partidas, como fez
recentemente contra Ucrânia, Escócia e Romênia, não é a mesma coisa. Senti um
desperdício enorme de sábado, recentemente, quando assisti a um jogo sem gols
(e aparentemente sem futebol) entre Brasil e Holanda no Serra Dourada. Tão
contraditório aos confrontos que brasileiros e holandeses protagonizaram em 74,
94, 98...
É, sim, uma questão de
espetáculo. A seleção brasileira não tem mais o glamour de antes. Os jogadores
não têm mais o mesmo perfil. Até camisa da Seleção Brasileira, a mais sagrada
de todo o futebol, agora tem uma aberração retangular no peito. Quadrado como o
nosso futebol.
E tentamos resgatar o verdadeiro
futebol do Brasil com raros bons momentos nos últimos anos. Na decisão da Copa
das Confederações de 2009, uma virada bonita sobre os Estados Unidos chegou a
me iludir. Assim como a vitória sobre a Argentina, em Rosário, ou o massacre em
cima de Portugal por 6 a 2. Mas foi só. Parou por aí.
O brasileiro perdeu a identidade.
Efeito Playstation, eu diria. Deixamos
de nos inspirar em Dadás, Edus e Pepes para pegar a mania europeia de
Cristianos Ronaldos. Mania europeia, sim, pois eles sempre gostaram de usar
todos os nomes.
Por isso, eu digo: esqueçam Paulo
Henrique. É Ganso. Esqueçam o Alexandre, deixem só o Pato. Não só a identidade,
o brasileiro perdeu também a intimidade com a seleção. Eu prefiro a
simplicidade de um Kaká à “pomposidade” de um Lucas Piazon. E, ah, como é bom
ver um Dedé no time! Simples assim: Dedé. Muito mais brasileiro que David Luiz,
pelo menos no nome.
Parece que cometemos a tolice de
achar que o número de letras influenciará no futebol. Isso é uma grande
mentira. Edson perdeu uma letra e virou Pelé. Com quatro letras, duas sílabas e
muito futebol, Pelé conquistou o mundo. Fez mais de mil gols. Parou uma guerra.
Ainda perdeu mais uma letra depois. Porém, três letras ainda bastaram para
descrever sua majestade: Rei.
PS: Abaixo, um vídeo com lances da Seleção Brasileira de 1982, considerada por muitos, a melhor de todos os tempos.
Parabéns pelo excelente artigo!!!
ResponderExcluirÉ verdade mesmo. Hoje temos nomes mais compridos e futebol curtinho curtinho.
Por isso torço mais para o Timão do que para Seleção!!!