sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A paixão que move um torcedor


Por Wagner Alves

Nunca fui daqueles que vão a um estádio para ver um time do coração. Primeiro, pelo fato de torcer primordialmente para um time do exterior e ainda por morar longe dos principais estádios do Brasil.
Em função disso, nunca entendi o motivo pelo qual a maioria dos torcedores choram, xingam e comemoram tanto em uma arquibancada. Somente com mais de 20 anos fui entender essa paixão, quando cobria uma partida de futebol na minha cidade. Durante a peleja, fiquei observando a torcida e criei uma imagem desse torcedor padrão.
Chama-se Jair esse senhor. Tem cerca de 40 anos, pouco dinheiro guardado e um ingresso valioso na mão. Entrada essa comprada a duras penas com parte do salário que mal dá para o almoço do mês.
O grande dia do jogo começa difícil, cedo. Seis horas da manhã, já está dentro do ônibus, o segundo dos três para o trabalho. O chefe reclama disso e daquilo, alguns deslizes irremediáveis para quem dorme pouco. O dia é duro, mas é preciso força para alimentar os filhos. Se sente mal, cansado, derrotado pelo chefe que joga repetidamente a superioridade na cara dos funcionários.
Terminado o turno, já de noite, segue com muitos outros para o estádio. É preciso arrumar bandeiras, discutir táticas e imaginar escalações com os parceiros os mais chegados da torcida. O estádio lota, o time entra em campo para se aquecer. Seu Jair vai junto, alonga os braços, arruma a camisa, beija a imagem do escudo do time no peito.
O juiz apita e o coração dispara. Um sentimento de luta toma conta desse pequeno torcedor. A cada bola perto de seu gol, um grito de medo. Pelo contrário, um grito de bravura. Seu Jair se julga não um torcedor, mas um jogador, um guerreiro na plateia.
Um ataque do pelotão de guerra do torcedor. A bola chega em bom lançamento pela esquerda perto da lateral. Seu Jair levanta alguns centímetros devagar como se previsse algo. Cruzamento na área. Seu Jair e muitos outros ficam de pé com os punhos cerrados e sem respirar. O atacante pula para a bola. Seu Jair estica o pescoço como se estivesse para cabecear junto com o atacante. É gol. A torcida explode. Braços, abraços bandeiras e apertos de mão se confundem numa multidão de alegria. Na arquibancada, as desavenças se esquecem, os problemas se vão. Os soldados comemoram a batalha vencida.
O jogo termina, hora de ir para casa. Seu Jair sai do estádio vitorioso. Mesmo que amanhã se sinta um derrotado no trabalho, tenha dificuldades em manter a família, dentro do estádio é um vitorioso. Naquele grito de desespero, no cantar junto com a torcida, naquela esticada de pescoço no gol, seu Jair tem certeza que ajudou seu time a levar a vitória.
O torcedor volta feliz. Com um sentimento que o ajuda a suportar o dia de amanhã e muitos outros que virão. É a paixão que mova o torcedor e, muitas vezes, a vida.





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