sábado, 17 de setembro de 2011

O circo do cartola


(Créditos: Junião)
À frente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014, Ricardo Teixera parece não se lamentar por ter tirado dos brasileiros o futebol que lhes pertence por direito, uma vez aqui nascidos. As declarações polêmicas do mandatário em entrevista à Revista Piauí, no mês de julho deste ano, trouxeram à tona o caráter ditatorial e materialista do presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Como consequência, movimentos contra o cartola tiveram apoio massivo nas redes sociais.

Foram mais de 75 mil postagens com a hashtag #foraricardoteixeira no Twitter. Entre os apoiadores do movimento, estiveram Xico Sá, Marcelo Rubens Paiva e o jornalista Juca Kfouri, desafeto confesso de Teixeira e processado por ele mais de cinquenta vezes. Ao menos na internet, a picaretagem do “dono” do “nosso” futebol virou manchete e teve suas repercussões.

Protestos também tomaram os estádios de futebol pelo país. A manifestação foi significativa durante os clássicos da 19ª rodada do Campeonato Brasileiro. Torcedores levaram às arquibancadas cartazes e faixas contra Ricardo Teixera. A atitude, porém, foi reprimida pelas federações estaduais, respaldadas em uma brecha do Estatuto do Torcedor que proíbe qualquer manifestação do tipo.

O movimento contra o presidente da CBF não obteve o mesmo sucesso nas ruas. Com pouco mais de mil manifestantes em marchas realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, fica evidente que a mobilização ainda precisa ser fortalecida para que tenha destaque na sociedade. Se a revolta causa inquietação nos amantes do futebol e, mais do que isso, nos cidadãos brasileiros, que ela tenha forças para alcançar objetivos concretos: denunciar as falcatruas de um cartola que, dentre suas várias artimanhas, decide horários de partidas, quem vai transmiti-las, barra o acesso da imprensa aos jogos e está disposto a fazer a Copa do sonho de todos para se eleger presidente da FIFA.
No Prudentão, durante o clássico contra o Corinthians, a torcida
do Palmeiras foi uma das que protestou contra Ricardo Teixeira.
(Foto: Eduardo Viana/Lancenet)
Não são poucos os que apoiam Ricardo Teixeira nos órgãos políticos brasileiros, a exemplo do senador Aécio Neves e do presidente do Senado Federal, José Sarney. Ainda assim, pequenas demonstrações de insatisfação com o cartola começam a surtir efeito. O senador Demóstenes Torres, líder do DEM, publicou em seu Twitter críticas à atitude repressiva das federações estaduais em relação aos protestos dos torcedores. Além disso, em artigo publicado no seu site, Demóstenes cita o mandonismo da Federação Catarinense de Futebol (FCF) ao reprimir as manifestações. “Se permitirmos que usem o Estatuto do Torcedor para calar a torcida, logo estarão prendendo as passistas por causa dos trajes mínimos no Carnaval e os tuiteiros que colocarem a hashtag #foraricardoteixeira. Não se pode deixar que driblem a lei para golear as liberdades”, afirma o senador.

Na entrevista concedida à Piauí, Ricardo Teixeira se diz inocente quando questionado sobre as acusações de corrupção feitas em relação a ele e a demais dirigentes da CBF. Um senhor refinado, eu diria, diante da repórter Daniela Pinheiro: “Minha filha, você acredita em tudo que sai na imprensa?”. Refinado não só no palavreado, como também na atitude. O presidente negou, por exemplo, a acusação feita pelo jornalista Andrew Jennings, que apresentou uma lista de dirigentes da FIFA - entre eles Teixeira e João Havelange -, suspeitos de terem recebido 100 milhões de dólares da ISL, uma empresa de marketing esportivo, em troca de direitos de transmissão de campeonatos. “Eu nem era do Comitê Executivo nessa época, iam me subornar para quê?”, foi a resposta sutil de Ricardo Teixeira.

Entre as várias acusações que o cartola já recebeu, estão os mais de 13 pedidos de indiciamento que o acusaram de evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Todos os casos, porém, foram arquivados pelo Ministério Público, obedecendo à velha lógica de meios públicos valendo-se de interesses privados. E disso Teixeira entende bem.

A visibilidade das acusações não parece preocupar Ricardo Teixeira, já que a Rede Globo costuma omitir reportagens que o criticam. Nesse jogo de interesses, o poder de Teixeira não sofre grandes ameaças, uma vez que é “blindado” pela emissora de maior audiência do país. E assim se mantém o verdadeiro circo: a Globo interessada nos direitos de transmissão dos campeonatos organizados pela CBF, Teixeira querendo se fortalecer e a população ludibriada pelo espetáculo do Mundial.

@mandiml

2 comentários:

  1. Mano, na moral. Tá muito bom. E olha que eu nem curto essas politicagens do futebol.

    ResponderExcluir
  2. Lembrar também que a Globo, quando confrontou Teixeira no passado, foi prejudicada com a mudança de horário de um jogo da seleção contra a Argentina, mudando lá para as sete horas de uma quarta, no horário das habituais novela e JN. E agora que mostrou umas notícias sobre os protestos contra RT, a CBF já insinuou de deixar mais caro os direitos da Copa...

    ResponderExcluir