por Gabriel Oliveira
Disponibilizo a carta de extrema importância que achei em
meios não tão lícitos. Precisei, apenas, corrigir a ortografia. Mantive, no
entanto, a interpretação original da mesma. Não colocarei aspas por mera ideologia. Afinal, acredito que essa carta seja de mais de uma pessoa.
Meu senhor
Escrevo-te essas mal traçadas linhas simplesmente como forma
de expressão de um sentimento. Uma
emoção que, sinceramente, não consigo mais guardar!!! Tentei ecoar os gritos do
meu coração, mas você não os escuta. O único, até agora, que não ouve, ou que
se recusa a prestar atenção. Por isso, decido formalizar essas ideias que me
perseguem há bons anos. Desculpe-me pela pobreza da minha carta, perdoe pelos erros
que cometerei, mas sou da camada baixa. Sou diferente de você. Não tenho
estudos. Nasço a cada instante em algum lugar da periferia do Brasil,
enveredando-me, como diria o poeta, onde há espaço, em um tempo desconhecido
por muitos, o “Quando”. Mesmo assim, quero me dirigir a você, um homem formado,
preso ao positivismo de nossa sociedade, articulado por um tempo mecânico de
origem cronológica banhado a ouro, alvejado por pontos alvos que julgo ser
diamantes.
Sinceramente, desejo que amanhã seja outro dia. “Hoje, você
é quem manda, falou, tá falado, não tem discussão”. Isso me aflige, dói no
peito saber que a minha gente anda de cabeça baixa, “falando de lado e olhando
para o chão”. Sentem-se cegos, assim como eu, diante da escuridão que os faz
mergulhar. Lúgrube lugar onde você se esconde, onde articula suas armadilhas,
laboratório onde “inventou o pecado” e onde silencia todos aqueles que tentaram
me ajudar. Você não deve saber “Como é difícil acordar calado”. “Esse silêncio
todo me atordoa. Atordoado eu permaneço atento”, mas você parece ser mais
inteligente. Minha atenção não me adianta de nada, até porque não tenho,
sequer, chances de me manifestar. Mas, “mesmo
calada a boca, resta o peito”. Meu peito e de muitos que acreditam em mim, que,
realmente, me fazem sobreviver. “Quero lançar um grito desumano”. Ah, se não fosse a mordaça.
Não quero mais “beber dessa bebida amarga. Tragar a dor,
engolir a labuta”. Essa dor não é minha! O meu sofrimento não é meu! O meu sofrimento é aquele que me impõe. Peço, por
favor: “quero inventar o meu próprio pecado. Quero morrer do meu próprio veneno”,
preciso traçar o meu caminho, não quero que faça mais mapas, que compre novas
terras para traçar meus rumos. Quero ser dono dos meus próprios caminhos.
Aceitarei ajuda, mas não admitirei que controlem meus movimentos.
“De que vale ser filho da santa, melhor seria ser filho da
outra. Outra realidade menos morta”. Do que me adianta criar um país inteiro
para mim? De todos gostarem de mim e, no entanto, não ser livre? “Tanta mentira, tanta força bruta“. Apenas eu, somente eu perco com isso. Meus irmãos, que migraram, são mais
felizes do que eu, me parece. Eles, pelo menos, não são marionetes; pertencem a
outra realidade.
Mas ainda profetizo a você. Já sente o que posso fazer
contra você? Ultimamente tem recebido alguns golpes de quem sempre gostou de
mim e de quem mais odeia você do que me venera. Que não soe como ameaça, mas, “Apesar
de você, amanhã há de ser outro dia”. Quero
“ver emegir o monstro da lagoa” que me fará livre, novamente. Quero ver
acenderem as luzes da sua sala e descobrirem suas armadilhas, seus tropeços,
suas vulnerabilidades. “Como vai se explicar, vendo o céu clarear, de repende,
impunemente? Como vai abafar nosso coro a cantar, na sua frente?” E quando
fizeram isso, pergunto “Onde vai se esconder da enorma euforia?”. Parece que os
dias estão contados para a minha liberdade. E mesmo que ainda passe muito tempo
para que isso aconteça, tanto tempo que seus ponteiros de prata não conseguirão
contar mais, aguardo ansiosamente.“Quando chegar o momento, esse meu sofrimento,
vou cobrar com juros. Juro”. Prometo a você que “Você vai pagar e é dobrado,
cada lágrima rolada, nesse meu penar”.
Não penso em punição. Apenas me imagino na sua frente e te ver incapaz de me controlar, de me mover, de me acionar, de me mexer, de me comprar! Ainda
há tempo. “Você que inventou a tristeza, ora, tenha fineza, de desinventar”,
para que saia com a insignificante dignidade que lhe resta. Está colecionando
inimigos. Deixe-me livre e se liberte!
Do contrário, "Você vai se amargar, vendo o dia raiar sem lhe pedir
licença. (...) E esse dia há de vir, antes do que você pensa”.
Ricardo
Teixeira, “você vai ter que ver, a manhã renascer e esbanjar poesia”!
Liberte-me.
Enquanto isso
não ocorre, Ricardo, pretendo “(...) cheirar fumaça de óleo diesel. Me
embriagar até que alguém me esqueça”. Mas saiba que estão se movendo por mim! Até logo, Meu senhor.
Assinado:
O iletrado FUTEBOL BRASILEIRO.
"(...)A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir (...)"
Obs: As músicas citadas por todo o texto são de
composição de Chico Buarque. Estão trechos de “Apesar de você”, “Cálice” e “Roda
viva”
Aproveitando o mote do caro Gabriel Oliveira, apresento aqui semelhante trecho de um texto também de autoria desconhecida:
ResponderExcluir"Eu tive um pesadelo agora. Sonhei que tinha gente lá fora" passando a mão aqui e acolá, com uma destreza de deixar as tortas pernas de Garrincha para trás.
"Chame o ladrão, chame o ladrão" que a polícia, essa formiga indefessa, pouco pode fazer diante desse ditador.
Sinto-me abandonado, desquitado. Meu futebol me abandou e deixou-me um Ricardo.