sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Um espaço aos mais xingados

Foto: arbifute.com

Vinte e duas pessoas em campo divididas em dois times. Tudo certo para começar uma partida? A maioria diria que sim. Quase todo mundo ignora a presença dos indivíduos mais ofendidos durante os 90 minutos: o trio de arbitragem.

De fato o objetivo do árbitro na partida é ser ignorado, despercebido, neutro. Mas ao colocar o primeiro pé no gramado, ele já é notado pelos espectadores, recebendo milhares de vaias e xingamentos de todos os tipos. Aliás, este é o único momento do futebol em que torcedores de rivais se unem e gritam em um só coro. Se não fosse pelo motivo que é, seria até belo.

O trio vai para a guerra vestindo um uniforme diferente, munido de sprays (que não são de pimenta), cartões, bandeiras e aparatos eletrônicos. Uma verdadeira armadura! E com  um apito sonoro o sargento abre o espetáculo e inicia o confronto contra 22 dois homens no campo de batalha e mil, dez mil, cinquenta mil ao redor do campo.

Foto: Getty Images
Mesmo sem tocar na bola (pelo menos na maioria dos casos), aqueles três homens têm uma importância fundamental no duelo. São os responsáveis por manter o controle da situação, mas são meros seres humanos. Sim, apesar da coragem, eles também erram. E quando erram, podem alterar resultados, vencedores e até campeões. Quando erram, suas dignidades são "homenageadas" na arquibancada e suas faces aparecem em todos os programas de mesa-redonda. Ah, como é bom xingar esses pobres mortais!

E então ressurge a discussão sobre o uso da tecnologia no futebol, pessoas começam a defender que as bolas deveriam ter um chip, que lances polêmicos devem ser resolvidos por tira-teima, câmeras e todo aquele blá, blá, blá. Hipocrisia! Os erros de arbitragem, as discussões pós-jogo, os jogadores cai-cai, a simulação, a malandragem, tudo isso faz parte da beleza que é o futebol. Se isso for tirado, é como se tirássemos uma parte do esporte. Perderia a graça, o sentido, a alegria.

Pobre juiz, que tem que decidir em segundos se foi falta ou não, se foi dentro da área ou não, se foi com intenção ou não, se é pra cartão ou não. Pobres bandeirinhas que têm que ter olhos biônicos para enxergar se foi impedimento ou não, se a bola saiu ou não e em quem ela tocou por último. Corajosas mulheres, que também resolveram encarar essa missão e ganham cada vez mais espaço na área.

Para dificultar mais ainda a situação, ambos (árbitros e bandeirinhas) não são profissionais no Brasil. São contadores, arquitetos, advogados que apitam jogos de futebol de vez em quando. Se quisermos exigir uma arbitragem melhor, temos que exigir a profissionalização dos juízes. E apenas a profissionalização não basta. É preciso dar aos árbitros um melhor treinamento e melhores condições de trabalho. A FIFA já alertou que só quer árbitros profissionais apitando a copa de 2014. Será que agora a coisa muda?
Sálvio Spinola é advogado e árbitro FIFA (Foto: ojornal.net)
Sendo profissionais bem treinados os erros iriam acabar? As críticas iriam diminuir? As discussões para a implantação da tecnologia iriam se extinguir? Com certeza não. Profissionais ou não, as mães dos árbitros sempre serão as mais lembradas nos barzinhos pelos amantes do esporte. Porque isso é futebol.

@renanfantinato

Um comentário:

  1. São exatamente,como são considerados, anonimos,quando não erram,e idolatrados por quem agrada o erro!!!

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