domingo, 30 de outubro de 2011

Impedimento extra-campo


São tortuosos os caminhos a serem enfrentados pelo Brasil até a Copa do Mundo de 2014. Diante da figura chué que se tem à frente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) – o cartola Ricardo Teixeira –, aprimoram-se as manobras dos representantes do futebol brasileiro. 

Além de Teixeira – que, como campanha de candidatura à presidência da Fifa, prioriza o Mundial –, vê-se um tanto enferrujada a coroa de Pelé, o “rei do futebol”. Entre atrasos nas obras e gastos questionáveis, parece difícil abalar a serenidade do monarca. Depois de penduradas as chuteiras, o prestígio, as campanhas publicitárias e as aparições em ocasiões oficiais parecem sobrepor-se a questões relacionadas à Copa de 2014. 

O fato é que pouca coisa parece estar nos eixos fora dos gramados. Quando se trata de política, o Brasil sempre surpreende quem não mantém os olhos atentos. Para assuntos públicos, já não cabem – se é que algum dia couberam – posturas saudosistas. Mudam-se nomes e partidos, mas as acusações são sempre muito semelhantes. Corrupção e desvio de verbas, por exemplo, são os crimes pelos quais o ex-ministro do Esporte Orlando Silva é investigado. Distante do gabinete na Câmara, Silva deixa também de mediar as relações entre o governo e a Fifa, apesar do aval fornecido pela Casa Civil. 

(Foto: André Coelho/Agência O Globo)
Dilma Rousseff mantém certa distância de Ricardo Teixeira, opondo-se à proximidade mantida entre o cartola e o ex-presidente Lula. Na tentativa de desvincular seu mandato de um cenário de corrupção, Dilma nomeia ao Ministério do Esporte o ex-deputado federal Aldo Rabelo, por enxergar nele a vontade de limpar a imagem do PCdoB. 

Além dos imbróglios em âmbito nacional, somam-se a essa conjuntura a pressão da Fifa para a aprovação da Lei Geral da Copa (que, entre outras determinações, permite o decreto de feriados em dias de jogos) e um suposto esquema de arrecadação de propinas, envolvendo Fifa e CBF, apontado pelo jornalista Andrew Jennings. 

O destaque dado à Copa do Mundo de 2014 pouco tem a ver com o futebol em si. Entre politicagens e violações da lei, diminui-se a probabilidade do brilho da competição subjulgar a sujeira espalhada no percurso.

@mandiml

*Texto publicado em 30/10/11 no Jornal Mantiqueira

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