por Wagner Alves
Ouvia sempre, quando era repórter esportivo de um jornal da
minha cidade, que o esporte é uma pauta menor do jornalismo. Não raro éramos
bombardeados com críticas de colegas sobre a importância – na maioria das vezes, a falta dela – dessa editoria para os jornais. Tornou-se quase um consenso
pensar que o esporte é uma brincadeira e o jornalismo, por conseguinte, também
o é.
No entanto, há consequências sociais dos esportes na vida
não só do brasileiro, como de todos os mais de seis bilhões de habitantes da
Terra. Primeiro, em relação apenas aos tupiniquins, vale ressaltar que todos
nossos heróis são esportistas. Muitos foram os que prenderam a respiração entre
a batida de Airton Senna e a confirmação de sua morte. Quando o carro de Senna
acelerava, os corações de milhares de brasileiros paravam diante das ousadias
do piloto. Quando o coração de Senna parou, os de muitos aceleraram diante da
morte daquele herói.
Em 1950, milhões de brasileiros lamentavam; não os números de
morte da Segunda Guerra Mundial terminada há pouco, tampouco se entristeciam
pela morte de Getúlio Vargas quatro anos depois. Foram às lágrimas com a
derrota do Brasil em casa dentro do maior estádio do mundo na época, construído
para a festa brasileira.
Em âmbito mundial, vale ressaltar a importância que os Jogos Olímpicos tiveram no período de Guerra Fria e seu contexto político. A
supremacia dos atletas representava a supremacia dos países na luta de quem
podia mais entre EUA e URSS.
Esses são apenas alguns exemplos de fatores que tornam “a
pauta menor” de esportes em algo de importância mundial em relação à política,
à economia e à cultura. Por isso, não deve ser menosprezada.
Há quem pense ainda que o humor é uma forma de menosprezar o
assunto. No entanto, vale o humor para fazer jornalismo esportivo, mas sem
considerá-lo apenas uma brincadeira. O uso do cômico é apenas uma ferramenta
estética para um pretexto maior e necessário: atrair a atenção do público e
discutir fatos importantes sem o caráter pedante inerentes a eles. Vale
ressaltar que a informação e a discussão só existem quando compartilhadas com uma
grande gama de pessoas.
Assim, o jornalismo somente dentro do campo é ultrapassado.
A discussão de foi ou não foi impedimento
não cabe no jornalismo esportivo atual. Se o jornalista quer discutir impedimento, fale então da falta de
infraestrutura que impede o torcedor
de ir ao estádio ver o jogo do time do coração. Ou da CBF que pretende impedir que os velhinhos possam
assistir a jogos da Copa pagando menos. Ou até a Lei da Copa que cria feriados
e impede que os nossos possam lucrar
com os jogos do Mundial. Vale discutir ações políticas para esportes,
segurança, competitividade, amparo para que o atleta não viva impedido de fazer seu trabalho.
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