sábado, 8 de outubro de 2011

Uai


“Óia cumpadis, tô arrevortado. Num tô de acordo cumque tá aconticendo, não. Sô humilde, dispenso conforto, má quero di ser filiz. E quanto tempo que num tenho um tiquin de filicidade coceis, hein? Tá alembrado de quando nóis reunia di domingo pra ferve na pinguinha e futebor? Trem bão aquilo.

'Uai', ocê vai me pergunta, 'donde foi pará isso?'. Eu respondo, apesar de que num tenho muita iducação. Isso tá na cachola e no coração da gente. Num sei falá, mas sei sinti. Sinti filicidade de ver ocês nem ganhá, nem perdê; mas jogá, com a buniteza que nóis gosta. Agora vem baxá cabeça, pidi ajuda pra gente graúda. A vá! Nóis tamém tá aqui pra ajudá.

Ocê aí, de cabeça baxa, que sabe que tá fazendo de um tudo errado, era pra ser quinem uma raposa. Cadê a buniteza? Cadê a rapideza quinem que fosse um risco azul ino pro gol? Ocê já jogô muito futebor pra baixá a cabeça como tá fazendo. Só ti peço uma coisa, dona Raposa, num me cai pra segunda não, qui cê mi leva embora o cadin de alegria que ainda resta nesse mar de pobreza.

I ocê aí do lado. O galo que acorda antes prá acordá nóis carece di sê acordado agora. Vamo trabaiá, que di trabaio nóis ganha a vida. Que que cuntece com ocê que um já tava lá no topo, aqui pertinho in Minas e nesse Brasilzão pra fora?

I ocê outro aí, tem nome de coisa grande, mas é pequeno. Ocê nóis inté esperava que não fosse guentá o tranco. Te dô um disconto, nóis dá o passo do tamanho da perna. Num dá mais que isso.

Ceis Vai me falá agora que o pobrema é dinheiro? A vida do mineiro sempre foi assim: farta comida na mesa, e sobra boca pra cume. A gente só qué vê um chocolate, mai no time dusotro, qui ni nóis já tá bão presse ano.

Dinheiro não é descurpa, que pra nóis sempre foi assim, nas migaia contada. A gente se vira com o que tem. Aqui, nóis num conta a riqueza pelo tamanho do borso, mas pelo tamanho do coração.

O lugar pra joga num tá bão? Nóis nunca fomo de querê muita coisa, carqué barraco tava bão pra nóis. Se lugar é apertado, nóis ispreme, mas tamo lá, conta com a gente.

Cumpadis, cumpadis, num vem cum cunversa pra boi durmi, assume que tá errado e bola pra frente. Curpa doceis mesmo que parece que num tem vontade de jogá.

Óiquió, nóis tá coceis. Levanta essa cabeça, que cêis não são muleque e, se fô pra pidi ajuda, pede pra quem torce proceis, não pra gente graúda que num sabe nem quem seis é.

Sai desse buraco, que nóis precisa de alegria pra viver. Pelo menos, di veiz em quando.”

Na última semana, os três times de Minas Gerais que disputam a séria A do Brasileirão (Cruzeiro, Atlético-MG e América –MG) pediram ajuda ao governo estadual e receberam um sonoro “não”.  Os times pediram patrocínio à loteria mineira para alavancar a arrecadação. 

Mineirão, estádio do Cruzeiro, em obras desde
junho desse ano. Fonte:combolaetudo.com
A assessoria do Cruzeiro afirma que o time foi onerado por conta das obras da Copa, já que o Mineirão está em obras. Assim, a Raposa tem grande custo de viagem e uma arrecadação de bilheteria muito menor jogando em Sete Lagoas – o prejuízo chega a R$ 20 milhões segundo o time. Situação semelhante vive o América-MG com o estádio Independência em obras – aqui, o revés chega apenas a R$ 6 milhões.

Essa situação mostra desespero dos times mineiros que podem muito bem cair  em conjunto esse ano. O matemático Tristão Garcia, do site Infobola, calcula a chance do três times descerem para a segundona esse ano é de 89%. Torçamos pelos outros 11%.

OBS: Outro texto que deve interessar ao caro leitor desse post: Mata-burro dos Mineiros, sobre a dificuldade dos times de Minas em engrenar no campeonato.

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