por Gabriel Oliveira
Saibam que não estaremos aqui
para renunciar nossos objetivos, cair sem nem ao menos batalhar, apoiar o óbvio ou ouvir a enganação. Esperamos buscar o inalcançável, batalhar pelo
inatingível, apoiar o impossível, ouvir a realidade. Esse ano já não podem mais
contar conosco, da mesma forma que hoje não podemos torcer por vocês. Deixamos
de querer ao passo que vocês deixaram de lutar. Portanto, longe das palavras
habituais, devo solicitar uns minutos da sua atenção para alguns conselhos. De
fato, a festa não acabou, o povo ainda não sumiu e a noite não esfriou de vez.
Mas estamos no crepúsculo, limiar da noite. Já sentimos os primeiros ventos
arrefecidos da escuridão. Ventos que trazem a alegria da moça, o espetáculo do artista, a
glória do boêmio, mas, sobretudo, a tristeza do mendigo.
Destino o texto a vocês, caras equipes. Farei um balanço do ano
para vocês, articulando alguns conselhos que transcendam aquilo que, no mundo
das ideias, é perfeito. Meus conselhos vão além do “Filtro Solar”, por mais que
o produto tenha seu efeito comprovado pela ciência. Mas afirmo que, para a
ciência, vocês não passam de um agrupamento humano com um fim comum: colocar o
projétil esférico dentro de uma estrutura retangular, composta de material
metálico, do qual ganchos são projetados para prender uma malha trançada, presa
ao solo. Traduzindo: fazer o gol. Desejo, sinceramente, que meus conselhos
tenham validade para o futuro.
Saibam que um copo vazio, apesar
de se sustentar, está cheio de ar. O copo vazio representa vocês. O ar do copo,
como diria Gilberto Gil, ocupa o lugar do vinho e este ocuparia o lugar da dor.
Mas vocês parecem não querer encher de
vinho esse copo. Pelo menos não quiseram, esse ano. Ludibriaram, ou pelo menos
tentaram, enganar os torcedores com fluidos não alcoólicos, mais baratos, para
preencher o espaço. Ao passo que a bebida evaporava, as emoções de insatisfação
dos torcedores preenchiam o copo. Como esperar o amor incondicional se vocês
não têm, ao menos, gratidão? Seus times, hoje, são um copo cheio de nada.
Aqueles sentimentos ocultos, de insatisfação de quem os amam, dão lugar à
indiferença, ao nada. Discussões e promessas são inúteis: não fazem o nada
desaparecer.
Saibam que o dilúvio tem seus
benefícios: tudo poderia ter sido diluído nas águas. Mas parece que nada foi
levado pelas intensas chuvas. O pior é saber que a previsão do tempo aponta mais
catástrofes. Por isso, não seja irresponsável ao ponto de brincar com a natureza das coisas.
A única benesse na vida é saber que, se oferecerem algo, receberão algo. Se
brincarem, brincarão com vocês. Se derem um obrigado, serão
gratos. Se derem proteção, serão protegidos. Se
zombarem, serão zombados. Saibam que estão lidando com pessoas que são fiéis às
vontades do coração. Não sejam irresponsáveis com os outros para não aturarem irresponsabilidades. As ações da verdadeira torcida são reflexos de seus
resultados.
Saibam que os verdadeiros
adversários são vocês mesmos. Não há evolução sem a introspecção. Desapeguem-se das torcidas organizadas: elas só fazem bem a vocês quando estão no bom momento.
E isso não é torcida. Analisem a administração feita no ano e se perguntem:
isso é realmente necessário? Quando puderem responder a essa pergunta,
resolverão grande parte de seus problemas. Saibam que, para mudar, deverão se desapegar da certeza de que os torcedores prometeram jamais se ausentar. Saibam
que, mesmo com a força deles, deverão se reerguer sozinhos, afinal a parte
deles está sendo executada. São os únicos que conseguem ficar de pé depois do
terremoto.
Concedo esses singelos conselhos
pelo simples fato de achar que vocês são maiores do que a crise que os afligem.
Atlético-MG, Cruzeiro, Atlético-PR,
Palmeiras e Bahia, independentemente
de onde estiverem, corrijam-se. Ou pelo menos tentem. É isso que fará com que o
copo se encha. Mirem-se no exemplo de Vasco e Corinthians. Há alguns anos,
foram ao inferno, abraçaram o capeta e dialogaram com ele. Hoje, estão ao lado
de ilustres, e poderão ser eternizados.
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