sábado, 12 de novembro de 2011

Feliz, e brasileiro

(Foto: info.com)
Joãozinho acorda pela manhã com o pai, também João, chamando à cama e assustado com a felicidade do pai em plena segunda difícil de trabalho, como costuma afirmar o patriarca religiosamente todo começo de semana. Mas esboçou um sorriso, não queria perder aquele momento, embora preferisse dormir.

O motivo de felicidade aguardava na saleta próxima: uma TV nova. 

-“Para a Copa do Mundo”, explica o pai.

O menino era novo, mas percebia o paradoxo da situação. Sentou à mesa rústica, que em nada combinava com a estante velha sob a TV. Toda a casa em contraste com o moderno televisor.

Joãozinho sentava para comer o pão amanhecido e duro, mas pouco importava. O pão era de ontem, mas a TV, de hoje.

Depois do desjejum, foi estudar Roma e seu pão e circo. Sentiu certa familiaridade com o assunto. Os problemas ficam esquecidos entre uma figurinha da copa e outra. Os romanos com seus gladiadores e nós com nossos jogadores. 

Almoçou e foi se despedir do pai que sentava no sofá assistindo ao noticiário com o pé na estante da frente, onde se encontrava uma pilha de contas, e saiu.

No ônibus, acompanhou a conversa de dois rapazes que se sentavam a frente. Discutiam as táticas possíveis que o técnico poderia fazer com esse ou aquele jogador e criticavam a escalação durante toda a viagem, até com bons argumentos. 

Um deles pega o jornal que carregava debaixo do braço, olha as novas pesquisas eleitorais e afirma não saber em quem votar ainda, mas havia tempo para escolha.

Na escola, as aulas foram baseadas no continente africano, na verdade, apenas no país do Gigante Adamastor. Talvez fosse a única vez que citassem o continente sem falar de escravidão no ano, mas estava de bom tamanho.

Ao chegar em casa, viu o pai descansando em frente à TV. Estava feliz como pouco estivera na vida.

Foi então dormir com o pensamento de que só sente brasileiro e feliz na copa. Afinal, ser feliz e brasileiro é necessário, ao menos uma vez na vida, ou a cada quatro anos.

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