terça-feira, 29 de novembro de 2011

O dia em que o Brasil parou



Domingo, 4 de dezembro de 2011.

De norte a sul, de leste a oeste, o Brasil inteiro está diferente nesse dia. De manhã, é um país tenso, nervoso, ansioso. Os olhares estão todos no relógio. Os ponteiros andam devagar hoje, também estão sentindo o clima do país. As 17 horas que antecedem às 17h parecem durar uma eternidade. “Maldita hora que não passa!” pensa o brasileiro apaixonado por futebol. Pleonasmo. Todo brasileiro é obrigatoriamente apaixonado por futebol.

De norte a sul, de leste a oeste, o Brasil inteiro está confuso nesse dia. A maioria do Rio de Janeiro hoje é corintiana. A maioria de São Paulo hoje é vascaína. Em Minas Gerais, o galo quer caçar raposa, enquanto a raposa só deseja cantar sua salvação. A Ressacada está de ressaca e quer trazer a dor de cabeça também para os visitantes.


Com muito custo, o ponteiro menor do relógio começa a se aproximar do número cinco. O brasileiro veste a camisa de seu time amado (seja o amor de verdade, seja o amor que só dura aqueles 90 minutos), pega uma cerveja na geladeira e senta no sofá. Pronto. A partir daí, o universo de cada brasileiro está restrito às 10’’, 20’’, 29’’, 42’’ ou qualquer que seja o número de polegadas de seu televisor. Nem dilúvios, tsunamis ou terremotos podem tirá-lo dali. A não ser que algum desses acidentes faça a energia cair.

Em 10 locais espalhados pelo país, o Brasil ouve o apito de início da partida. Na teoria, os apitos deveriam tocar simultaneamente como em uma banda. Mas não é assim que a banda anda por aqui. Nossa banda é desafinada e os jogos começam em horários diferentes e em ritmos diferentes. O que só faz a tensão aumentar ainda mais.

Cento e noventa milhões de corações batendo mais forte. Suor, frio na barriga, nervosismo. O tempo não passa para uns e corre depressa para outros. Controle remoto na mão, rádio ligado em outro jogo, contas a fazer, bolinha na tela. O brasileiro já se desespera vendo um jogo, mas, ainda sim, quer acompanhar outro. A irracionalidade do futebol se faz presente.

E a cada bola na rede, milhares de pessoas gritam, pulam e comemoram em algum lugar do país. Ao mesmo tempo, a cada gol, milhares de pessoas choram, se desesperam e se sentem feridas em outro local. Cruel futebol, nunca deixará felizes todos os seus amantes?


Mas o verdadeiro grito e o verdadeiro choro só vêm após o último apito final. Quando a última partida chega ao fim, toda a angústia se transforma em alegria ou tristeza, em festa ou decepção. O campeão é exaltado pela mídia. Os rebaixados são zombados pelos rivais. Fim do maior campeonato de futebol do mundo.

Aos poucos, o coração do país volta bater normalmente, as pessoas voltam a trabalhar e os políticos voltam a roubar. Tudo volta ao normal? Não! Antes de chegar o dia 4 de dezembro, esse domingo já entrou para a história. Os dias não serão os mesmos para nós. Porque vivemos no país onde o futebol é mais do que esporte: é paixão.



O Ministério da Saúde adverte: em caso de suspeita de problemas cardíacos, fuja do país no próximo domingo.

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