Bernardo mantém viva a esperança vascaína
(foto: globoesporte.com)
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Chamam-se de homéricas não somente as obras atribuídas a Homero
como também toda história que seja fabulosa, épica, lendária. Na falta de termo
melhor para o que aconteceu ontem nos gramados do Brasileirão, chamemos, pois,
de homérico.
A narrativa que se passou ontem facilmente faria Camões adicionar um capítulo em Os Lusíadas homenageando o heroísmo do Vasco da Gama do
futebol. Como no épico livro de Camões, os acontecimentos de ontem
aparentemente tiveram intervenção divina.
Por um lado, o deus Baco e São Jorge arrumavam cada detalhe
para a festa do título. De outro, o Gigante Adamastor (da colina) e São
Januário carregavam as últimas forças para manter viva a busca pelo título.
Para ser campeão antecipado, o Corinthians precisava da vitória e ainda torcer para que os vascaínos levassem a pior. O clima era de muito otimismo para os líderes (como mostrou texto de João Jacetti ontem). O Timão pegou o empolgado Figueirense. O Vasco encarou o rival Fluminense, do craque Fred.
Para ser campeão antecipado, o Corinthians precisava da vitória e ainda torcer para que os vascaínos levassem a pior. O clima era de muito otimismo para os líderes (como mostrou texto de João Jacetti ontem). O Timão pegou o empolgado Figueirense. O Vasco encarou o rival Fluminense, do craque Fred.
O drama em ambos os jogos começou cedo, com bolas na trave do Vasco, Fluminense e Figueira. O primeiro tempo das duas partidas terminou
em zero a zero com um aperto no coração dos corintianos.
Diante da falta de oportunidade do Corinthians, São Jorge
foi na orelha de Tite e, invisível, pediu que Alex entrasse em campo. O meio-campista
não somente entrou no jogo, mas para a história do time quando, aos 23 minutos
da segunda etapa, cruzou para o artilheiro Liédson. O atacante comemorava, o
público no estádio comemorava, os torcedores em casa comemoravam, os deuses
comemoravam. O céu e a terra tremeram com a alegria corintiana. O Timão era
campeão.
O Vasco por sua vez precisava de um gol para manter acesa a
disputa pelo título. O Fluminense não tinha chances de ficar em primeiro com o resultado e não queria ver o rival levar o caneco.
Aqui começa a história digna de Os Lusíadas. São Januário,
como seu santo rival, foi ao estádio e pediu a entrada de Alecsandro. Os deuses
sabem o que fazem. Aos 31 minutos, o atacante oportunista aproveitou um desvio
no escanteio e colocou o Gigante da Colina em vantagem. Os vascaínos puderam
respirar aliviados. O céu e a terra tremeram novamente com a alegria, agora,
dos vascaínos. A briga
pelo título ainda estava em aberto.
Há muito tempo iluminado, o atacante Fred queria emoção.
Aos 38, após um cruzamento, dominou a bola no peito como se lhe fizesse parte
do corpo e, de voleio, empatou a partida. O gol, embora do Fluminense, era um
presente para os corintianos. Não somente o gol, mas a taça. Novamente, céu e
terra tremeram.
O desespero tomou conta dos vascaínos. Os jogadores até
tentaram pedir falta na jogada de Fred – o que resulta na expulsão de Leandro
que estava no banco. Um minuto depois, termina o jogo em Florianópolis e os
jogadores do Corinthians permanecem no estádio esperando o resultado dos rivais. Os holofotes se
viram para o Rio.
Os
jogadores tinham cinco minutos com a prorrogação para tentar o gol. E não é à toa que o Vasco é conhecido como Time da Virada. Aos 45,
Alecsandro – sim, aquele do primeiro gol – cruzou para Bernardo na área. O
mundo ficou em silêncio, o tempo, mais devagar. Os vascaínos cerraram os
punhos, levantaram metade do corpo da cadeira como quem prevê um milagre.
Bernardo cabeceia. Gol? Não. Emoção pouca é bobagem. Como se
já não tivessem apertados o suficiente os corações corintianos e vascaínos, o
goleiro Cavalieri defendeu e alongou por microssegundos a aflição.
Mais uma vez, por centésimos de segundo, o tempo, a respiração, o coração; tudo parou. Bernardo chuta, faz o gol e tira a agonia dos vascaínos, devolvendo a tensão para o Timão. Festa no Rio. O céu e a terra tremem novamente. Bernardo alucinado de felicidade corre para a torcida igualmente alucinada e chora. São as belezas do futebol.
A festa no céu e na terra foi adiada. Os vascaínos comemoram
a sobrevida. Os corintianos estão felizes com a vantagem do empate. A emoção
sobrevive continua. O futebol agradece.
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