segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Como joga o campeão

         Dia 4 de dezembro de 2011. Dia de emoção! Dia de título brasileiro. Os corintianos comemoram, vibram e agradecem. Um título conquistado com raça, com garra, com emoção, com tudo aquilo que o torcedor não cansa de enfatizar.

        Mas temos que lembrar também que, para ser campeão, o Corinthians precisou de inteligência. Para lidar com o momento conturbado de Chicão. Para conduzir o trabalho do treinador e do grupo depois da perda da Libertadores. Mas, principalmente, inteligência tática! Todos sabem que o alvinegro venceu o torneio, e que, para isso, teve de vencer muitas partidas e jogar muito. Mas como é que esse grupo fez para jogar tanto?

          A resposta é mais simples do que se imagina: um esquema tático com várias opções, algumas variações de posicionamento, e uma espinha dorsal. É isso que faz do Corinthians o melhor time do Brasil hoje. Para começar a entender esse funcionamento tático, vejamos a formação base dessa equipe:


             O time principal do técnico Tite é visivelmente muito forte. A titularidade de Paulo André (com Chicão na reserva) dá consistência no jogo aéreo, coisa que há tempos a equipe não tinha. As presenças de Alex, Willian e Emerson tornam o time criativo e leve, deixando o ataque corintiano muito veloz. Os dois pontas são muito técnicos e habilidosos, possuem grande variação de jogadas e sabem atuar mais centralizados quando necessário, fazendo trocas constantes de posição com Liédson e entre eles mesmos. Já o meia acrescenta, além da velocidade, um estilo mais incisivo à equipe. Passes mais verticais, arremates de muita potência e precisão, além de um bom ganho na bola parada são os trunfos de Alex. A velocidade e a verticalidade do time, aliás, tornam-se ainda maiores com as investidas de Paulinho, jogador que, apesar de não ter grande qualidade técnica, desempenha uma função fundamental no time (parecida com a que era desempenhada por Elias). O segundo volante marcou oito gols e resolveu vários jogos para o Timão. O sistema de marcação com dois laterais que pouco descem (principalmente Alessandro), e dois atacantes laterais que ajudam muito na marcação é muito consistente. Cabe também aqui o elogio a Fábio Santos que, apesar de não ser um jogador de grande técnica, fez um excelente campeonato, surpreendendo a maior parte da crítica e dos torcedores. O goleiro Júlio César não é dos melhores, falhou em diversas oportunidades, mas acabou se tornando personagem do título, principalmente devido à sua identificação com o clube.

             Ao longo do ano, pode-se notar uma estrutura básica de três jogadores fundamentais para o time, sem os quais dificilmente este título viria.


                 O defensor Leandro Castán é titular da equipe desde o primeiro jogo do campeonato e disputou 35 das 38 partidas. O "xerifão" da zaga corintiana se destacou por ser um zagueiro de boa velocidade e que joga com muita firmeza (até exagerando às vezes e cometendo várias faltas). Ele não é considerado um líder do time, mas é, sem dúvida nenhuma, o jogador que representou a regularidade do campeão.
                 
            O volante Ralf, por sua vez, é, na minha humilde opinião, o melhor jogador do Corinthians, brigando, inclusive, para ser o melhor do campeonato (ao lado de Neymar, Montillo e Dedé). O "volantão" do alvinegro tem um poder de marcação absurdo e terminou o ano como terceiro maior ladrão de bolas do Brasileirão e maior do Brasil na temporada (considerando apenas times da série A do nacional). Além da capacidade de marcação, ao longo deste campeonato Ralf demonstrou que é sim um bom jogador com a bola nos pés. A saída de bola da equipe passou cada dia mais pelos pés dele, e em várias partidas o atleta provou que não é apenas um destruidor, mas que pode também construir. Jogos como Corinthians x Vasco no Pacaembu fazem com que o torcedor corintiano inclusive peça mais oportunidades para Ralf na seleção de Mano Menezes.

                  A última peça dessa fundação é o homem-gol Liédson. Vindo do Sporting Lisboa, de Portugal, o atacante já havia provado em sua primeira passagem pelo time do Parque São Jorge que sabe pôr a bola na rede. Neste ano, não foi diferente. Liédson marcou 12 tentos pelo Corinthians, tendo uma média de quase um a cada dois jogos, sendo que oito deles foram feitos no Pacaembu, casa do Timão no campeonato. Não é difícil entender, depois de olhar os números, o que faz a torcida fiel idolatrar o atacante. Além do faro de gol, o chamado Levezinho também é um jogador de muita velocidade, boa habilidade e bastante inteligência. Mais um dado que comprova a importância do atleta no time é que em cinco oportunidades Liédson desempatou um jogo esse ano. Sendo assim, podemos colocar cerca de dez pontos (dois a mais em cada jogo) na conta do matador. O jogador, que tanto é capaz de apenas empurrar a bola para dentro, quanto de fazer jogadas lindas (como o drible sobre Gerley na partida final do campeonato), é, sem dúvidas, peça fundamental no esquema de Tite.

              Além de alguns jogadores fundamentais em campo, o Corinthians possui também alguns jogadores especiais no banco de reservas.


                A começar pela defesa, o nome do zagueiro Chicão chama a atenção. Um dos melhores zagueiros do futebol brasileiro nos últimos anos, Chicão não vivia um bom ano de 2011 quando perdeu a vaga no time titular. Para piorar a situação, ao sair do time o zagueiro não reagiu bem, disse estar abalado e recusou-se a ir para a partida contra o São Paulo, dizendo que poderia atrapalhar o time. A situação gerou mal-estar no clube e o técnico Tite decidiu, sabiamente, deixar o atleta de fora do grupo por um certo período. No entanto, Chicão voltou a ser aproveitado, e terminou o ano dizendo ter um bom ambiente com todos. O problema foi contornado e agora ele, que já provou ter muita qualidade, busca voltar ao time titular no ano de 2012.

            No meio campo estão o décimo segundo e o décimo terceiro titulares de Tite. Isso se não considerarmos que um deles seja, na verdade, um dos 11 de fato. Danilo disputou mais jogos do que o próprio Alex (36 partidas), sendo titular em algumas e entrando em outras. O meia armador teve papel fundamental no título. Danilo foi o líder de assistências da competição, deu 12 passes para gol, com uma média de 0,33 por jogo, uma a cada três partidas. Somado a este índice, podemos adicionar três gols e 34 roubadas de bola (quase uma por jogo), além de constante auxílio à marcação pela esquerda e da grande capacidade de cadenciar o jogo. Edenílson possui números menos impactantes, mas sua importância foi perceptível. O jogador atuou em 26 partidas, quase sempre vindo do banco. A raça, a disposição, o vigor físico e a velocidade são características claras no atleta. Além disso, ele demonstrou bom toque de bola, uma visão de jogo interessante e um bom poder de marcação. Edenílson e Danilo foram os homens de confiança de Tite no campeonato.

                  No ataque, dá para tomar um susto. Jorge Henrique é um dos jogadores mais queridos pela massa corintiana, principalmente devido à sua grande disposição física e inteligência tática. O jogador vem sendo um dos mais importantes do time desde 2009. Adriano, o Imperador. Um jogador de talento inquestionável, que merece respeito, tanto dos companheiros quanto dos adversários. Apesar de ambos serem jogadores teoricamente indiscutíveis no elenco alvinegro, nenhum dos dois foi fundamental para a conquista. Jorge foi reserva. Um bom reserva. Marcou três gols na competição, participou de 31 partidas, manteve sua característica de ajudar muito na defesa. Um bom reserva, mas que não se destacou. O Imperador se destacou. Não que ele tenha sido o grande jogador da campanha, ou que o título seja dele. Aliás, se suas participações fossem anuladas o Corinthians continuaria campeão. Mas a verdade é que aquele gol contra o Atlético Mineiro, no Pacaembu, fez sim com que Adriano ficasse marcado na conquista. Tanto ele quanto Jorge Henrique são jogadores de qualidade, e ano que vem prometem brigar pela titularidade.

                  Devo admitir: não sou fã de Tite. Acredito que o técnico cometeu muitos equívocos com o time, como, por exemplo, insistir em deixar Danilo como titular, com Alex no banco, ou fazer questão de tirar Willian de campo em quase todas as partidas, mesmo quando ele está bem no jogo. Mas, entre mortos e feridos, seja mérito de Tite ou não, o Corinthians, mesmo que não tenha um futebol vistoso, ganhou o título de melhor time do Brasil e a qualidade técnica e tática do time com certeza foram fundamentais para isso.

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