quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ilusões de um amor de verão



Começando o ano para o futebol com a Copa São Paulo de Juniores, a grande falácia futebolística de janeiro.

“Quantidade não é qualidade”, “Cavalo dado não se olha os dentes” ... Essas e outras máximas ilustram a Copa SP, um torneio de baixíssimo nível técnico vendido como a maior competição de categorias de base do futebol brasileiro.

Noventa e seis equipes do Brasil todo, algumas delas semiprofissionais, dispersas pelo estado de São Paulo, submetidos a jogos realizados às duas horas da tarde, no intenso verão do interior paulista, em gramados (alguns) deploráveis.

Pode ser o maior, mas está longe se ser o melhor. O nível técnico de outros campeonatos de categorias de base é muito superior, e a organização também. Os Campeonatos Paulistas de categorias de base, por exemplo, são organizados em divisões. O nível do Brasileiro Sub-20, disputado no fim da temporada, é muito superior. 

A verdade é que a mídia esportiva, desesperada por vender e transmitir partidas ao vivo, anuncia a Copinha como O evento esportivo. E nós, apaixonados por futebol, compramos isso, porque estamos com necessidades quase patológicas de assistir a partidas de futebol depois do final da temporada. Cavalo dado...

Um torneio que também é vendido como ‘a grande chance’ para garotos do Brasil inteiro. Será que é mesmo?

Em 2009, o Atlético Rondoniense disputou a Copa São Paulo no Grupo Q, ao lado de Vasco da Gama, Mogi Mirim e Lemense. Chance para os garotos de Rondônia? Não. Sem verba para trazer o time para São Paulo, o Atlético Rondoniense “alugou” o time do Limeira F.C., especializado em categorias de base. Isto é, jogadores e comissão do Limeira disputaram a Copinha com o uniforme do Atlético, apenas representando-o. Casos semelhantes ocorrem todos os anos, com diversos times.

Então dizem: “Mas a Copinha revelou Falcão, Raí, Rogério Ceni, Neymar...”. Alguém realmente acha que esses jogadores não seriam revelados se não fosse a Copa São Paulo? Alguém realmente acha que Falcão e Raí não teriam chances no futebol brasileiro se nunca tivessem jogado a Copinha?

Não digo que não gosto da Copinha, mas sou totalmente contra a sua supervalorização. Outros campeonatos de categorias de base, com nível técnico muito mais elevado e mais organizados, não têm o destaque que possui a tal Copa SP. Quem perde com isso é o futebol brasileiro.

Treinadores caíram do comando do São Paulo por não escalarem Sergio Mota,
craque da Copa São Paulo de Juniores. O meia disputou a Série B do ano passado
pelo Icasa (CE) e foi relacionado para poucas partidas. (Foto: Lance!)
Por isso, não acho que devemos acabar com a Copinha. Mas que devemos valorizar, no mínimo, igualmente os outros campeonatos, muito melhores e mais disputados. E que não depositemos nossas esperanças nos “craques” da Copinha. Na minha opinião, um jogador que se destaque no Brasileiro Sub-20 tem muito mais chances de dar certo como profissional que um jogador que disputou 8 partidas contra equipes semiprofissionais de Tocantins, Espírito Santo e Roraima, entre outros estados com pouca tradição no futebol, e fez alguns gols.  

Quantos times não perderam treinadores, não entraram em crise, acusados pela mídia e pela torcida de não escalarem os mitológicos jogadores da Copinha? Jogadores que, quando tiveram a chance na equipe principal, desapontaram e foram jogar em equipes tão grandes quanto as que enfrentaram na Copa São Paulo. Decepções como Sergio Mota (foto), Lulinha , Daniel Lovinho, entre tantos outros. 

Não digo também que são todos jogadores ruins, mas a Copa São Paulo é muito pouco, é muita fraca e muito limitada para que se possa afirmar ou esperar qualquer coisa. É um torneio de verão curto, e criar ilusões a partir dele é arriscado.

Sou contra a supervalorização e a consequente ilusão que o campeonato cria, mas há pontos positivos destacáveis no torneio, que pelos discutíveis motivos supracitados, chama a atenção para as categorias de base. E, para nos distrair depois de tantos dias sem futebol, é uma boa pedida. E vai que aparece um...

@felipealtarugio

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