quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Uma bela manhã de sol


"Bela não. Belíssima!", diria o torcedor corintiano. "Não tão bela assim", diria o tricolor. O apaixonado por futebol, muito satisfeito, ainda continuaria: "Sem clubismos, carioca! Foi belíssima sim...".


Assim se sucederia, no dia de hoje, uma conversa entre esses três exemplares de torcedor. A partida foi linda. O gramado baixo e em bom estado fazia a bola correr bastante, dando ainda mais velocidade ao jogo. As duas equipes eram bastante técnicas, mas mostraram que também sabem jogar na raça quando necessário. E o melhor, sem apelarem para a violência. O saldo dessa partida foi muito positivo, e os torcedores do Flu sabem que é verdade. Amanhã mesmo, quando aquele sentimento chato de derrota tiver passado, eles começarão a se empolgar.

Impossível não se empolgar com alguns nomes desse "Fluminensezinho". O clube das laranjeiras foi melhor no primeiro tempo. A defesa estava muito bem armada, e o volante Rafinha, que já se mostrava um bom cão de guarda ao longo do campeonato, dava uma aula de marcação. Enquanto isso, Eduardo, meia de imensa qualidade técnica, que fez partida bem abaixo de sua capacidade, tinha apenas o papel de empurrar a bola para Marcos Júnio (sim, o nome é sem o r mesmo). 

O baixinho de 1,67m veste a camisa 11 do Flu e foi o artilheiro do Brasileirão sub-20 de 2011. Ele, jogador de torneio sub-18 (como a Copinha), contou com muita velocidade, fintas rápidas, boa qualidade com ambos os pés e um excelente posicionamento para ser um dos melhores jogadores da categoria mais velha no ano passado e o melhor em campo na final de hoje. Além dos já citados, a torcida carioca pode esperar coisas boas também do meio campista Higor. Um jogador de bom poder de marcação, boa técnica e muita inteligência.

Nessa etapa do jogo, o Corinthians, mesmo estando pior que seu adversário, era mais organizado, tinha mais volume de jogo, e trocava passes com tranquilidade, mas não conseguia finalizar com perigo. Mateuzinho, camisa 10 do time e um dos destaques da Copinha por sua grande visão de jogo e boa habilidade, sofria com forte marcação. Giovanni, dono de excelente arremate a longa distância e muita técnica, até tentava alguns lances, mas também não obteve êxito. Os que mais conseguiram criar no primeiro tempo foram dois jogadores que atuavam pela esquerda: o atacante Leonardo, jovem que sabe driblar e tem bom porte físico, mas que ainda peca muito nas finalizações, e o melhor jogador deste time, Denner.

Denner já treinou com o time principal
em 2011.
O lateral esquerdo demonstra desde o primeiro jogo que tem tudo para ser um grande jogador, e nessa final não foi diferente. Com o meio campo congestionado, ele foi o responsável pela maior parte das boas jogadas do Timãozinho. O garoto possui habilidade, velocidade, ótimo cruzamento e bom poder de marcação, tudo o que se espera de um lateral. Nada disso, porém, foi suficiente, e o Fluminense acabou sendo mais perigoso nos primeiros quarenta e cinco minutos, principalmente através das arrancadas de seu baixinho, que pareciam ser inevitáveis. Mesmo assim, a primeira etapa acabou no 0 a 0.

No segundo tempo, a história começava pior ainda para os alvinegros. O que era uma ligeira superioridade se transformava em domínio e, logo de cara, aos quatro minutos, em boa jogada de Marcos Júnio (como sempre), saiu o gol do Flu. O cruzamento, que veio da direita, foi alto, o goleiro Matheus deu pinta de que tinha tudo sob controle. Doce ilusão. Ele, que já havia demonstrado ao longo da competição (e também no primeiro tempo da partida) que não era dos mais seguros, chegou atrasado na bola. Falha individual e gol do centroavante Michael, que, apesar de ser limitado tecnicamente, termina a competição como artilheiro de seu time.

A resposta do técnico Narciso foi rápida. Cinco minutos depois do gol, o atacante Wesley entrou no lugar de Giovanni. A mexida não foi a ideal. Wesley não é um atacante de tão boa qualidade, e Giovanni, mesmo não estando em uma boa partida, podia render muito mais do que seu substituto. A partida continuou meio morna, com um Fluminense bastante ciente do que precisava fazer para vencer o jogo e um Corinthians sem forças para atacar.

O segundo gol, que poderia matar o jogo, ficou perto de sair em bola de Marcos Júnio para Fernando, que entrara no lugar do apagado Eduardo. Mas o zagueiro Marquinhos (outra peça que pode ser muito interessante para  o futuro) conseguiu evitar o pior com um bote na hora H. A situação só mudou de figura quando, aos 19 minutos, o lateral direito Cristiano saiu para a entrada de Leandro. Assim que a substituição foi feita, o Timãozinho ganhou um escanteio por aquele lado, e dali saía o primeiro gol. O tiro de canto batido por Mateuzinho encontrou o capitão Antônio Carlos, que cabeceou para o fundo das redes.

Marcos Júnio, jóia do Flu, provavelmente adotará Marcos Júnior,
com r, como seu "nome de atleta".
Com a igualdade no placar, a mexida pôde fazer o efeito que Narciso esperava. O atacante Leandro, que entrou bem no jogo, é basicamente mais um Leonardo. Ambos possuem o mesmo estilo de jogo, habilidade e força física semelhantes e o mesmo problema na finalização. Mas fato é que a presença de um deles de cada lado era um problema para os cariocas. Apesar disso, o ponto forte da mexida não foi quem entrou, mas sim quem saiu. 

Cristiano ao longo da Copinha mostrou ter suas qualidades e seus defeitos. Ao mesmo em tempo que é capaz de dribles bonitos e boas finalizações, o lateral deve muito em velocidade, o que é péssimo para sua posição. Sua marcação é falha e, talvez por imaturidade, o jovem comete muitos erros tanto na saída de bola quanto em suas decisões no ataque. Quem assumiu o setor foi o volante Gomez, um jogador que também não possui tanta velocidade, mas de ótimo poder de marcação e com muita qualidade para ser o elemento surpresa do ataque. Suas chegadas na frente e seu estilo de jogo já renderam inclusive comparações com Elias e Paulinho, nomes recentes do time profissional que desempenham bem esse papel (obviamente, devem ser guardadas as devidas proporções de Elias para Paulinho, assim como de Paulinho para o jovem que começa agora sua carreira). 

A presença de Gomez pelo lado direito, formando dupla com Leonardo (que mudou de lado com a entrada de Leandro), gerou muitas jogadas interessantes e o Corinthians começou a ensaiar uma pressão. A defesa do Flu passou a ter que dar mais atenção para o setor direito, que acabou sendo controlado depois de algum tempo. Mas, com isso, acabou sobrando um pouco mais de espaço para Denner, Mateuzinho e Leandro, o trio que atuava pela esquerda. E foi em jogada por ali que, aos 42 minutos, surgiu mais um escanteio. Outra vez o camisa 10 cobrou, e outra vez lá estava o zagueiro e capitão Antônio Carlos, que se não é nenhum primor técnico, mostrou que, ao menos, tem estrela. Mais uma cabeçada, mais um gol. O Corinthians, aos 43 minutos do segundo tempo, virava a partida e garantia sua oitava Copa São Paulo de Futebol Júnior. 

O saldo que fica é esse. Muitos atletas promissores. O centroavante Douglas do Corinthians e o lateral esquerdo Ronan do Fluminense, por exemplo, são duas excelentes promessas que acabaram não se destacando na partida de hoje. É claro que nem todos demonstraram tanta qualidade. E é claro que nem todos que o fizeram conseguirão vingar no profissional. Mas os finalistas da Copa São Paulo de 2012 com certeza propiciaram hoje, para todos aqueles que assistiram ao jogo, uma bela manhã de sol e alguns bons motivos para torcer pelo futuro do futebol. 

E só para não parecer que tudo são flores, fica aqui um aspecto negativo do jogo de hoje. O árbitro Luiz Flávio de Oliveira teve uma atuação péssima, invertendo muitas faltas e demonstrando claramente que não sabe a diferença entre deixar o jogo correr e deixar de marcar infrações que realmente acontecem. Para a sorte de todos, nenhum lance capital sofreu interferência direta de seus erros. Mas, se deixarmos que a arbitragem seja critério para julgar a qualidade de uma partida no Brasil, acabaremos desistindo do futebol. Sendo assim: dos males, o mais comum.

Parabéns, Corinthians, pelo título. E parabéns aos dois finalistas pelo fair play e pela qualidade técnica que demonstraram na partida de hoje. Tomara que ambos sirvam de exemplo para outras bases pelo país, e que em algum tempo, nossos times formados com a base possam fazer frente a qualquer Barcelona de garotos espanhóis por aí.

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