Terça-feira, 3 de janeiro, São Paulo, Brasil. O governo de São Paulo inicia uma operação
sanitária e de segurança com a retirada de traficantes e viciados da região de
São Paulo conhecida como Cracolândia.
Domingo, 22 de janeiro, São José dos Campos, Brasil. A
Polícia Militar e a Guarda Civil invadem uma ocupação conhecida como
Pinheirinho e abusam do poder com supostos estupros.
Quarta-feira, 1º de feverereiro, Egito. Torcidas rivais
invadem um campo de futebol e iniciam uma batalha que culminou na morte de mais
de 70 pessoas.
Esses podem parecer fatos totalmente diferentes e desconectados,
mas carregam uma ligação muito íntima entre si: Todos são fatos relacionados ao
futebol. Embora muitos jogadores,
futebolistas, apresentadores e críticos tenham se mostrado pasmados em relação
à tragédia africana; o cenário de segurança – ou melhor, a falta dela - no Brasil
por conta da bola não se mostra melhor.
A política paulistana de limpeza nas principais cidades do
estado tem um objetivo muito claro: deixar a casa brilhando para a volumosa visita
em 2014. A Cracolândia é, há pelo menos 10 anos, conhecida de muita gente -
quiçá do povo egípcio – como ponto de concentração de traficantes e usuários da
droga que lhe dá nome. A ocupação do Pinheirinho não nasceu de um dia para
outro, já que mais de mil famílias não construíram seus barracos todos ao
mesmo tempo. O movimento já completava oito primaveras. Se essas duas regiões são,
há tempos, problemas de segurança pública, por que só agora foram tomadas
atitudes em relação a elas?
Primeiro há de se lembrar de que no meio desse ano haverá
eleições – e não é para o paredão do Big Brother. É ano de os prefeitos mostrarem
serviços e a retirada de marginais das ruas e favelas sempre foram boas
manobras para conseguir votos.
Na outra mão, a especulação imobiliária nos centros urbanos força o aumento de segurança de terrenos. . Isso quer dizer que a oportunidade de jogos e centros de treinamentos eleva imensamente o custo de imóveis e é hora de vendê-los. No caso de São José dos Campos, cidade que briga para receber uma confederação no Mundial, o imenso terreno de Naji Nahas pode salvar o falido especulador. Já para a Cracolândia, o governo de São Paulo prefere arrumar a casa a falar o velho “não liga para a bagunça” aos muitos turistas que esperam do Brasil as riquezas, as mulheres, os carnavais e o futebol tão divulgados lá fora.
Um desavisado leitor pode até argumentar que, apesar dos
objetivos obtusos (Copa de 2014), as atitudes foram necessárias e legais (já que
a ocupação e trafico de drogas são ilegais). Contudo, de modo maquiavélico, os
meios de “arrumar a casa” foram muito mais violentos e menos nobres do que o necessário para a finalidade
do processo.
Assim como limpar uma casa não resolve o problema da existência de lixo no mundo, essa retirada de traficantes e moradores não resolve o problema da segurança no país. São
mais de 400 pessoas envolvidas na Cracolândia e de 6 a 9 mil no
Pinheirinho.
São pessoas que continuam enfrentando problemas com falta moradias
e criminalidade, agora sujeitos à violência do estado, da polícia e da
população que apóia tais atitudes. Tiros,
pedras, armas improvisadas, abuso de poder, denúncia de estupro, confrontos de todo tipo aconteceram para que se pudessem vender terrenos e aproveitar todas as
vantagens que a Copa do Mundo pode trazer à elite do pais do futebol.
Como se vê, a diferença entre a violência aqui e no Egito é
que lá ela acontece dentro de campo, e aqui fora dele.
@wakkalves
@wakkalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário