segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Lei geral do tapa-buraco


O projeto de Lei Geral da Copa, que regulamenta direitos comerciais na venda de produtos e imagens e a publicidade durante os jogos, foi enviado ao Congresso para votação na última semana. Um dos pontos polêmicos diz respeito ao comércio nos arredores dos estádios. A intenção da Fifa é permitir apenas a venda de produtos licenciados pela entidade, fazendo com que uma determinação do governo federal interfira nas leis municipais responsáveis por regulamentar o comércio local.

Porém, a ferida mais profunda da lei é a possibilidade de transformar em feriados os dias de jogos da Copa das Confederações de 2013 e do Mundial de 2014. A decisão explicita o jogo praticado pelo governo federal sobre a população brasileira. De um lado, é de interesse governamental e da Fifa que todas as obras necessárias à viabilidade da Copa sejam finalizadas e que problemas conjunturais como o trânsito caótico das grandes capitais seja solucionado. Em contrapartida, existe uma legião de torcedores vestindo as "amarelinhas" que se veem beneficiados com a criação de mais feriados.

(Foto: Divulgação)
Deixar de trabalhar em dias de jogos do Brasil não é nenhuma novidade. É hábito do país do futebol fazer tudo parar quando a Seleção entra em campo. Em 2014, a Lei Geral da Copa legitimará essa postura. Se até mesmo a Câmara dos Deputados e o Senado Federal estiveram, durante os jogos do Mundial do ano passado, às moscas, não se pode esperar que nossos queridos representantes tenham uma postura contrária ao projeto.

O mais grave, entretanto, é a intenção do governo federal presente nas entrelinhas do projeto. A medida representa mais um tapa-buraco para os problemas do país e adia soluções definitivas. Diminuir a frota de veículos em circulação durante os jogos dará a falsa impressão de que o problema do trânsito está resolvido, além de tornar mais eficaz o funcionamento dos meios de transporte públicos e de serviços como restaurantes e estacionamentos.

Maquiar os aspectos negativos do país, criar medidas imediatistas para postergar atitudes que os solucionem a longo prazo e fazer com que a população permaneça alienada diante dessa realidade é uma característica pertinente à política brasileira e está presente na saúde, na educação e, como não poderia ser diferente, em jogos da Copa do Mundo.

Leia também: CBF, Ricardo Teixeira e Copa do Mundo em "O circo do cartola".

@mandiml

Um comentário:

  1. E o lucro que o comércio nacional está esperando obter com a Copa? É ignorado?

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