domingo, 6 de novembro de 2011

Ebó que tira nó

(Foto: Edson Ruiz/Gazeta Press)
Quase seis e meia, mormaço soteropolitano ainda sendo sugado por 30 mil outros torcedores que se amontoavam nas arquibancadas de Pituaçu. Eu já havia feito ebó junto a alguns companheiros, subvertendo as representações dos orixás, e esperava que de alguma forma isso pudesse ajudar meu Bahêa a se reerguer. As últimas colocações, próximo ao fim do campeonato, são um tanto ingratas. 

Jogadores em campo. O desafio era grande para nós. O tricolor de São Paulo buscava a vitória para subir colocações, conquistar a vaga na tão cobiçada Libertadores e ainda guardar no fundo da mente alguma esperança de título. Aquele novo técnico, no Brasileirão, somou apenas um ponto em dois jogos, e foi eliminado na Sulamericana. Isso sem contar as atuações ainda tímidas de um suposto craque. 

Todos esses elementos, vistos depois de acabada a história que agora narro, parecem favoráveis ao Bahêa. Porém, enquanto eu fechava os olhos e ouvia o apito inicial seguido dos gritos de outros torcedores que me rondavam, não conseguia evitar o pessimismo. Para mim, seria naquele jogo que Luís Fabiano teria uma grande atuação, e que Leão levantaria sua imagem diante da torcida paulista e da imprensa perseguidora.

Para o aperto em meu peito torcedor começar a crescer, Diones levou um chapéu de um moleque do São Paulo, que conseguiu bater cruzado antes da bola tocar o gramado. Cabra safado. Era o início de minha angústia. O primeiro tempo terminou, o Bahêa não jogou nada e eu só conseguia pensar: “ê, Joel. Ô, meu rei. Vê se faz esse time voltar com mais garra.” 

(Foto: Edson Ruiz/Gazeta Press)
E, com a força de Ogum, de um guerreiro que não foge à luta inacabada, Pituaçu presenciou as garras de meu time. Souza empatou e encheu a gente de esperança, mas aquele menino Lucas fez um golaço que colocou o time da metrópole à frente. Meu peito não deixava de acreditar que viria outro empate, ou quem sabe até a virada.

Mas essa zaga me deixa doido mesmo. Como pode? A bola vivinha na área depois do escanteio. Cícero ampliou a vantagem e a minha vontade era de me sentar ou então virar de costas para o campo. O peso de meu corpo nas pernas era grande, mas eu via a arquibancada, que não deixava de emanar forças à equipe moribunda, quase vencida. Não poderia ignorar aquilo tudo. 

O primeiro golpe veio dos pés de Lulinha. Mesmo sem muita esperança, o Bahêa distinguiu-se daqueles que abandonam o combate nos momentos difíceis. Garras à mostra, o valente Ogum recuperou o fôlego e ainda empatou a partida, com gol de Fahel, aos 29 minutos. 

O estádio estava em êxtase e, para tornar a festa ainda maior, Luiz Eduardo marcou gol contra. A oferenda teve efeito e o Bahêa virou a partida. Foi grande o esplendor. 

O som do apito golpeou o ar, o Ogum respirou, Bahêa em meu coração se esticou.

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