quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Violência no futebol: A lama de nossas convicções


Tudo bem. Vocês conseguiram! Dispo-me completamente. Levaram minhas convicções, roubaram meus sentimentos, destruíram o circo. Vou recolher tudo, vou limpar o palco. Recolho as alegrias, a diversão, levo embora a saudade, esqueço o passado, arquivo as projeções para o futuro,  guardo a esperança, engaveto as glórias e, acima de tudo, atiro no fogo todos os meus textos.  Eu não fiz nada disso. Quem fez foram vocês! Verdadeiros escarros da humanidade, sobreviventes de um mundo que não merecem. Ativistas que, na obscuridade de seus sentimentos, reverberam a violência no esporte. São outra espécie: não são Homo, muito menos sapiens.


Vídeo da agressão ao jogador João Vitor, do Palmeiras. Imagens Rede TV!.

Todos nós pudemos acompanhar o formidável show. Talvez o objetivo tenha sido alcançado, não é mesmo? A excêntrica manifestação dos punhos que, cerrados, apunhalam aqueles que outrora afagaram. Afagos? “O beijo, amigo, é a véspera do escarro”.  Tem razão!

Incrível incoerência de seus cérebros incopetentemente vis. Desprezível atitude, ignorante pensamento. Podemos culpar os Parvos pela zombaria, na barca dos céus? Não! E podemos culpar os Parvos pela violência na barca dos mortais? Sim! Esses se mostram parvos, mas não passam de uma irrelevante projeção do que suas miseráveis condições morais são.   

João Vitor: Vítima de um dos inúmeros casos de agressão no futebol (Foto: Ag. Estado)

Sobe-me, neste momento, um asco terrível ao relembrar suas ações. Às vezes desejaria que tudo fosse efêmero. Que as ferramentas que dispomos hoje fossem efêmeras. Assim, os autores do "espetáculo" não gozariam a eternidade que, realmente, desejam. Suas ações foram registradas, suas imagens estarão para sempre nas nossas memórias e, infelizmente, serão imortalizadas nos aparatos do mundo tecnológico.

Neste momento, dou combustível ao fogo. O meu quinto texto já se foi para a lareira da nossa desvalida e desgraçada esperança. O que esperar a partir de agora? Nada. Tudo continua como era. Esses são os verdadeiros controladores do futebol, mas que, diferentemente daquele Outro, não desviam nenhum dinheiro para seu próprio bolso.

A verdade é essa. Há anos essa espécie domina o esporte e nós, torcedores. Nunca dão a concessão para irmos a estádios. Afinal, qual torcedor arriscar-se-ia a ir ao estádio? Devemos a vocês a graça de não podermos assistir ao nosso time, de engolir muitas inverdades futebolísticas, de encarar demissões e desligamentos forçados, de deglutir as crises instauradas pelas suas ações. Agradecemos “pela cachaça de graça que a gente tem que engolir, pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir, pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair”. Por isso, que Deus lhes pague! Ou lhes cobre!

Hesito em jogar meu décimo primeiro texto para a lareira. Mereceria ser guardado? Mas arquivado aonde? Talvez a Roda-viva impeça de protegê-lo, afinal, ganhou mais um aliado. Enquanto atrás de uma mesa, esconde-se o arquiteto moral, um fantasma robusto, que se diz dono de tudo, nas ruas está a azáfama, a espécie não identificada que coordena o trabalho braçal de toda repressão que nos é imposta.

Agora, graças a vocês, tenho mais uma companheira: a indiferença. Iniciaremos romance. Portanto, acostume-se com a lama que te espera. Vocês merecem o que têm. Por isso, não vou cobrar pelo estrago que causaram. Pagarão de forma natural, pois dão manutenção À Roda-viva que controla o esporte. Não sabem se mexer, heim? Não sabem nada de estratégia, não têm um pingo de inteligência para saber quem atingir.

Atingiram de forma errada, errônea, grotesca, infundada, ignorante e a pessoa incorreta. Meus conselhos de nada podem servir, afinal destino esse texto aos torcedores, Homo sapiens sapiens.

Agora, torcedores, despeço-me desse texto. Vou bater o portão, sem alarde, carregando "a impressão de que já vou tarde".

“Profundíssimamente hipocondríaco, 

Este ambiente me causa repugnância... 

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 

Que se escapa da boca de um cardíaco.”


Augusto dos Anjos, trecho de “Psicologia de um vencido”.

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